MUNDO DA BOLA

Racismo estrutural: Orlando Ribeiro, técnico do Santos, é o único negro da série A

Comandante do Alvinegro da Vila Belmiro tem consciência do problema, diz que é importante falar disso já e cita obra do jurista Silvio Almeida

Créditos: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos F.C.
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A Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol tem 20 equipes, mas apenas uma delas tem um técnico negro: o Santos Futebol Clube, comandado por Orlando Ribeiro, de 55 anos. O fato não pode, nem deve, passar despercebido, uma vez que o Brasil é um país cuja população é composta por 56% de negros, segundo dados do IBGE.

Os repórteres Lucas Musetti Perazolli e Gabriela Brino, do portal UOL, fizeram uma entrevista com o técnico santista e nela puderam constatar que Ribeiro tem absoluta consciência de que tal ocorrência não é “normal” e que isso implica num claro caso de racismo estrutural, embora o profissional tenha admitido que não havia se dado conta de ser o único não branco a dirigir um time na elite do Brasileirão.

“Vocês me alertaram, eu sou o único técnico negro da série A e eu nem tinha percebido. Temos de falar mais, porque quanto mais a gente falar, mais cedo a gente vai resolver a situação”, disse Ribeiro aos jornalistas.

O treinador estava à frente do sub-20 do Peixe quando foi chamado para assumir a equipe principal após a saída de Lisca. Ribeiro disse que ficou surpreso ao receber a notícia, diretamente da boca do presidente do clube, Andres Rueda, de que treinaria a lendária equipe da Vila Belmiro. Só que a partir dali, o comandante sabia que começaria também uma luta por representatividade.

“Primeiro é a preparação. Capacidade. Temos de ser capazes e enfrentarmos a situação adversa. Exemplo, dar o exemplo. E sempre lutar. Ajudar no que for preciso. Não ter problema de falar sobre o assunto, como estou tendo aqui com vocês... Problema nenhum. E sempre colocar que não é a raça, é a capacitação e qualidade. Não é a cor da pele que dirá se tem condições ou não. Essa é a ideia que eu tenho”, afirmou o técnico do Alvinegro.

Ribeiro não só tem esse entendimento como baseia sua percepção e sua leitura de mundo sobre o racismo no Brasil por meio de importantes fontes acadêmicas e intelectuais. Inclusive, para escorar seu argumento sobre o quanto o racismo é estrutural no país e se reflete em todos os ambientes, ele cita o filósofo, professor universitário e jurista Silvio Almeida.

“Não é coincidência. Precisamos olhar para a educação lá embaixo para ajudar as pessoas. Todos precisam ser ajudados. E é estrutural, como diz Silvio Almeida. Precisamos mexer em uma estrutura. E as oportunidades. Não ser uma oportunidade única. Porque as outras pessoas têm várias oportunidades, então nós também poderíamos ter mais oportunidades. Só se consegue isso com luta. A maior luta é se capacitando e se dedicando. E aí depois, a oportunidade aparecendo, tenho certeza que as coisas vão mudando. Já está. Mas tenho certeza de que vai mudar ainda mais”, concluiu Ribeiro.