F1: Lewis Hamilton protesta contra absolvição de trumpista que matou antirracistas em Kenosha

Piloto britânico protestou contra absolvição de Kyle Rittenhouse, que matou dois ativistas do Black Lives Matter. Hamilton usa capacete com cores LGBT no GP de Doha, no Catar, país que proíbe atos de apoio a lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

Lewis Hamilton, a arte contra a absolvição de Kyle Rittenhouse e o capacete com as cores LGBT no Catar (Montagem)
Escrito en ESPORTE el

Antes de largar na pole position no GP do Catar na manhã deste domingo (21), o piloto inglês Lewis Hamilton, da Mercedes, protestou nas redes sociais contra a absolvição de Kyle Rittenhouse, apoiador de Donald Trump que assassinou dois manifestantes antirracistas com tiros de fuzil AR-15 durante os protestos antirracistas do movimento Black Lives Matter em Kenosha, no estado de Wisconsin, EUA, em agosto de 2020.

Nos stories de seu instagram, Hamilton publicou uma pintura do artista ganense residente em Nova York Dennis Owusu-Ansah que mostra dois policiais brancos apontando as armas para um homem negro com sinais de tiros nas costas. Ao lado dos policiais, aparece a imagem de Rittenhouse, que tinha 17 anos quando saiu às ruas com o fuzil e disparou contra pelo menos três manifestantes do Black Lives Matter, matando Joseph Rosenbaum, de 27 anos, e Anthony Huber, de 26.

Apoio a causa LGBT no Catar

Hamilton, heptacampeão mundial de automobilismo, usa durante Grande Prêmio do Catar, em Doha, um capacete com a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBT.

A atitude foi reverenciada nas redes sociais e classificada como uma manifestação corajosa do esportista, já que no pequeno país do Oriente Médio, uma monarquia ditatorial islâmica, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais são condenados a até três anos de prisão. Manifestações em apoio à causa LGBT também são proibidas no Catar.

O capacete utilizado no treino inaugural manteve todos os patrocinadores do corredor, mas incluiu uma faixa central, de face a face, com a bandeira do arco-íris e com a inscrição “Estamos Juntos”, em inglês, na parte de trás do equipamento.

Justiça dos EUA absolveu jovem de todas as acusações

Na última sexta-feira (19), a justiça de Wisconsin absolveu Kyle Rittenhouse de todas as acusações que pesavam contra ele: duas por homicídio, uma por tentativa de homicídio e mais duas por ser imprudente com a segurança em protestos públicos.

No entanto, para boa parte da imprensa e da sociedade norte-americanas, o que se viu foi na verdade uma vitória da arraigada cultura armamentista do país.

Com apenas 17 anos, Rittenhouse tornou-se o jovem branco símbolo da mentalidade pró-armas que domina boa parte da sociedade dos EUA. Sua absolvição força a lógica, já que os vários vídeos que registraram a trágica noite de 25 de agosto de 2020 não mostram alguém em perigo se defendendo, além de o fato de que o fuzil AR-15 portado por ele ser proibido no estado de Wisconsin.

Morador do estado limítrofe de Illinois, o adolescente pegou a arma, que sequer estava em seu nome nos registros de seu estado natal, e entrou numa outra unidade territorial para se intrometer nos distúrbios ocorridos em função da morte de George Floyd, o homem negro assassinado pela polícia de Mineápolis, e de Jacob Blake, morto nas mesmas circunstâncias em Kenosha.

Apoiador de Trump, Rittenhouse fazia parte de milícia branca

Apoiador do presidente Donald Trump, Kyle foi acusado por ativistas do movimento negro Black Lives Matter (BLM) de fazer parte de uma “milícia branca” chamada “Boogaloo Boys”. Em vídeos, policiais de Kenosha aparecem agradecendo o grupo pela presença no ato e distribuindo água aos homens armados.

Ele assassinou dois manifestantes nos atos promovidos nos EUA após o assassinato de Jacob Blake, o homem negro que levou cerca de 7 tiros da polícia após tentar separar uma briga no Wisconsin.

Em seu depoimento ao juri, no último dia 11, Rittenhouse teve uma crise de choro quando descrevia o que aconteceu na noite do crime. Ele alegou ter sido encurralado por uma das vítimas. A sessão precisou ser suspensa até que o acusado pudesse se recompor.

“A pessoa que me atacou primeiro ameaçou me matar. Eu trouxe a arma para me proteger, mas não achei que teria que usar a arma para me defender“, afirmou.

Os promotores argumentaram que Rittenhouse se inseriu propositalmente na situação e teve a intenção de matar todos os alvos de seus disparos com arma de fogo na noite do crime. Eles também alegaram que Rittenhouse foi a única pessoa a atirar em alguém naquela noite, quando havia milhares de manifestantes nas ruas.

A polêmica em torno do julgamento começou antes de Rittenhouse chegar ao tribunal. Um juiz branco determinou que os dois manifestantes mortos não podem ser chamados de “vítimas” pelos promotores. O magistrado sugeriu que a promotoria utilize termos como “testemunhas reclamantes” ou “falecidos”.