Nesta terça-feira (25), a natação dos Estados Unidos foi sacudida por um escândalo sexual envolvendo a ex-nadadora Sara Ehekircher, de 51 anos. Ela confessou que sofreu abusos por parte do treinador Scott MacFarland durante quase 20 anos,
O relato de Ehekircher só foi conhecido graças a uma confissão sua publicada pelo jornal britânico The Guardian, com o título “Meu treinador de natação me estuprou desde quando eu tinha 17 anos e a USA Swimming ocultou o caso”.
No relato, a ex-nadadora conta que começou a treinar em 1986, após a morte da mãe. Ela tinha 17 anos e um pai ausente, então a USA Swimming (Federação Estadunidense de Natação) a convenceu de morar junto com seu treinador, Scott MacFarland, que tinha 30 anos.
Os estupros começaram naquele mesmo ano. Ehekircher conta que, no começo, MacFarland prometia a ela que se transasse com ele poderia ter mais chances de conseguir uma vaga na equipe olímpica de natação dos Estados Unidos. Com o tempo, os abusos foram mudando de estilo, passando a ocorrer na forma de chantagens e no uso da violência física.
“Os treinadores usam comportamentos predatórios para fazer com que as crianças façam tudo o que pedem. Eu sei disso porque aconteceu comigo”, conta Ehekircher.
A nadadora também conta que era consciente de que estava sendo abusada, mas não tinha coragem de denunciar. Durante os Anos 90, era teve que fazer dois abortos, por gestações que foram resultados dos estupros. Também conta que tentou se suicidar diversas vezes.
Depois da última tentativa de suicídio, em 2004, Sarah Ehekircher resolveu denunciar o caso. Porém, o medo de não ser levada a sério, que era um dos principais fatores que a fizeram guardar o segredo por 18 anos, acabou se concretizando.
Para denunciar o treinador, ela procurou John Leonard, diretor da USA Swimming, do departamento encarregado de investigar casos de abuso. “Sua reação foi de indiferença. Disse que meu caso não era o único, que isso acontece o tempo todo e que eu deveria simplesmente superar aquilo”, contou.
Sarah Ehekircher diz que o foco dos que pretendem investigar os casos de abuso na natação estadunidense deve estar naqueles que são rejeitados pelas equipes olímpicas. “Infelizmente, minha história é uma entre muitas. A grande maioria dos atletas abusados ??não está no nível olímpico, o que significa que suas histórias não geram repercussão na mídia para forçar essas organizações a aceitarem mudanças significativas”, explica a ex-nadadora.
O caso lembra muito o de Joanna Maranhão, uma das maiores nadadoras brasileiras de todos os tempos, integrante da equipe brasileira em 2 Jogos Olímpicos (Sydney 2000 e Atenas 2004) e 4 Jogos Pan-Americanos (Santo Domingo 2003, Rio 2007, Guadalajara 2011 e Toronto 2015).
Em 2008, Joanna Maranhão denunciou que sofria abusos do seu treinador desde os 9 anos de idade. Desde então, tem sido uma das mais ativas figuras brasileiras no combate à violência de gênero e à violência infantil.