ECONOMIA

Dólar registra a maior baixa em duas décadas após cair pelo 11ª dia seguido

É a maior queda desde 2005; pesquisa mostra que real foi segunda moeda que mais valorizou no mundo em janeiro

Imagem ilustrativa.Créditos: Reprodução/Neofeed
Escrito en ECONOMIA el

O dólar começou a recuar outra vez após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar que suspenderá as tarifas previstas contra o México e que as negociações seguirão para alcançar um "acordo" entre as duas nações. A Casa Branca divulgou no fim de semana que implantaria tarifas de 25% sobre os produtos do México e Canadá, além de 10% sobre as importações da China, e também fez ameaças com tarifas similares contra a União Europeia e o Reino Unido.

Ao final do pregão, o dólar registrava queda de 0,34% ante o real, cotado a R$ 5,81. Durante a sessão, a moeda chegou a superar os R$ 5,90 na máxima. Esta é a 11ª queda consecutiva do dólar em relação ao real, a maior sequência negativa dos últimos 20 anos, desde o período de 24 de março a 13 de abril de 2005, quando o dólar caiu por 14 dias seguidos, atingindo R$ 2,563.

A queda do dólar não é noticiada da mesma forma quando ocorre a sua alta pela mídia corporativista e liberal, que dá destaque para as oscilações de alta da moeda americana. Os ataques ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva frequentemente ganham força quando o valor do dólar sobe. No entanto, essa relação é uma estratégia que se repete ao longo dos anos, com a oposição e a grande mídia utilizando o câmbio como uma espécie de termômetro para a gestão do presidente.

Bolsonaro vendeu dólar 113x para conter alta

Pouco noticiado, durante os quatro anos da gestão Bolsonaro, o Banco Central interveio 113 vezes no mercado à vista para reduzir o preço do dólar, tendo realizado apenas uma intervenção na administração atual de Lula. A venda de dólar à vista é uma das estratégias do Banco Central para atuar sobre o câmbio. Nesse processo, o BC coloca a moeda americana no mercado, equilibrando a oferta e a demanda, com o objetivo de reduzir o valor do dólar. 

Entre 2019 e 2022, durante o governo Bolsonaro, o Banco Central vendeu US$ 74 bilhões no mercado à vista. Já em 2023, primeiro ano do governo Lula, não houve nenhuma oferta de dólar à vista. Em 2024, a autoridade monetária fez apenas uma oferta de US$ 1,5 bilhão, em setembro.

Em janeiro deste ano, o Banco Central realizou mais dois leilões de dólares com compromisso de recompra futura pela autoridade monetária. Cada operação teve limite de US$ 1 bilhão. No último dia 29, o BC realizou mais um leilão de linha no mercado de câmbio com oferta total de US$ 2 bilhões.

Real é a segunda moeda que mais valorizou

Enquanto setores do mercado financeiro passaram meses alimentando previsões pessimistas sobre a economia brasileira, os números mostram uma realidade oposta: o real registrou uma valorização expressiva de 5,6% em janeiro e foi a segunda moeda que mais ganhou força frente ao dólar em todo o mundo no mês de janeiro. A moeda norte-americana, por sua vez, sofreu uma desvalorização no período, encerrando o mês cotada a R$ 5,8355.

O desempenho da moeda brasileira só ficou atrás do rublo russo, que teve uma valorização de 6,8%. O movimento contrasta com a turbulência vivida pelo real no fim de 2024, quando o dólar disparou, chegando a R$ 6,18 em meio a um ambiente de desinformação e pressão de agentes do mercado financeiro. O estudo foi conduzido por Einar Rivero, da Alos Ayta Consultoria, e abrangeu 27 moedas.

A reviravolta do real está diretamente ligada à credibilidade da política econômica do governo Lula. Depois de uma forte desvalorização no final do ano passado, impulsionada por um movimento especulativo contrário ao pacote fiscal apresentado pelo governo, a realidade começa a se impor: os investidores estão reconhecendo a solidez da economia brasileira.

O cenário externo também favoreceu a recuperação do real. A postura protecionista prometida por Donald Trump durante sua campanha eleitoral vinha gerando preocupação nos mercados. Após sua posse, no entanto, o republicano recuou em algumas das medidas mais agressivas e adiou taxas de importação que prometia para o primeiro dia de mandato. Esse ajuste na retórica política dos EUA, segundo analistas, contribuiu para a queda global do dólar e favoreceu moedas emergentes.

Ranking das moedas que mais valorizaram em janeiro:

  • Rublo russo: +6,8%
  • Real brasileiro: +5,6%
  • Peso colombiano: +5,2%
  • Zloty polonês: +4,7%
  • Won coreano: +4,5%
  • Shekel israelense: +4,3%
  • Baht tailandês: +4,1%
  • Peso chileno: +4,0%
  • Iene japonês: +3,9%
  • Forint húngaro: +3,8%
  • Libra esterlina: +3,7%
  • Rand sul-africano: +3,6%
  • Sol peruano: +3,5%
  • Peso mexicano: +3,4%
  • Remimbi chinês: +3,3%
  • Dólar de Cingapura: +3,2%
  • Coroa norueguesa: +3,1%
  • Riyal saudita: +3,0%

95% das previsões do mercado sobre a economia brasileira estavam erradas

Um levantamento apontou que o mercado financeiro errou 95% das previsões econômicas feitas nos últimos anos no Brasil. Indicadores como Ibovespa, Selic, PIB, dólar e inflação foram, em sua maioria, superestimados em relação à realidade. Houve discrepâncias entre os valores projetados e os resultados reais. 

Em 2023, o PIB, estimado em uma alta de 0,78%, surpreendeu ao crescer 2,9%. No caso da inflação, esperava-se 5,36%, mas o IPCA fechou em 4,62%. Para muitos economistas, erros de projeção são comuns, mas nesses casos, estão sendo propositais. “O mercado financeiro conta com uma bazuca para atacar o real, mas o governo Lula só tem uma faca para se defender”, declarou o economista e professor José Luis Oreiro em entrevista à TV Fórum, em dezembro do ano passado.

Para ele, não havia qualquer base na economia real que justificasse aquela recente disparada do dólar e que mudanças institucionais deveriam ser feitas contra os faria-limers. O Brasil vive inédito crescimento econômico para tempos recentes, baixo desemprego e inflação controlada, embora acima da meta irreal fixada pelo próprio Conselho Monetário Nacional. 

LEIA MAIS: Faria Lima toca fogo com bazuca e Lula só tem faca para se defender, diz economista

O levantamento do site UOL que confirma esses dados utilizou o Boletim Focus do Banco Central e a pesquisa “LatAm Fund Manager Survey”, do Bank of America, para compilar as previsões feitas entre 2021 e 2024. O Boletim, que soa quase inacreditável, é a principal referência do Banco Central para definir a política econômica no Brasil. Isso implica que a instituição, na hora de tomar decisões, se apoia em dados muitas vezes imprecisos, já que as previsões são feitas por 100 economistas conservadores do mercado financeiro.

Veja as projeções e os resultados nos últimos dois anos:

2024

  • Ibovespa: A projeção indicava que o índice superaria os 140 mil pontos, mas ele caiu 10,36%, fechando em 120.283,40 pontos. (Erro)
  • Selic: Esperava-se uma taxa de juros de 9%, mas ela subiu para 12,25% ao ano. (Erro)
  • PIB: O crescimento estimado era de 1,59%, mas a alta até setembro foi de 3,1%. (Possível erro)
  • Dólar: A previsão era de que o dólar ficaria em R$ 5,00, mas ele terminou o ano em R$ 6,18, uma alta de 27,3%. (Erro)
  • Inflação/IPCA: A expectativa era de uma inflação de 3,90%, mas o índice alcançou 4,83%. (Erro)

2023

  • Ibovespa: A previsão era de que o índice ficasse entre 110 mil e 120 mil pontos, mas ele fechou em 134.185 pontos, com um aumento de 22,28%. (Erro)
  • Selic: A taxa esperada era de 11,75%, mas ela terminou o ano em 12,25%. (Erro)
  • PIB: A previsão era de um crescimento de 0,78%, mas o PIB cresceu 2,9%. (Erro)
  • Dólar: Esperava-se que o dólar ficasse em R$5,28, mas ele terminou em R$4,85, uma queda de 8,06%. (Erro)
  • Inflação/IPCA: A expectativa era de 5,36%, mas a inflação foi de 4,62%. (Erro)

De maneira geral, a taxa de acerto foi de apenas 5%, ou seja, a cada 20 previsões feitas, apenas uma se concretizou. A única previsão que se mostrou precisa foi a relativa ao desempenho do Ibovespa em 2022, que registrou uma alta de 4,69%.

PIB cresceu em 2024

As expectativas do mercado financeiro para o desempenho econômico do Brasil em 2024 sofreram ajustes significativos ao longo do ano passado, revelando uma subestimação das políticas do governo Lula por parte dos entrevistados pelo relatório Focus, considerado "a voz da Faria Lima".

Comparando os resultados do último relatório de 2023 com o último de 2024, as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) para a dívida líquida do setor público e para o resultado primário divergiram amplamente dos números efetivamente alcançados pelo governo Lula. Segundo a Fazenda, o bom desempenho industrial e a forte expansão do consumo das famílias foram decisivos para o avanço.

As estimativas de crescimento do PIB começaram conservadoras, com projeções de 1,59% no início de 2024, mas aumentaram gradualmente, refletindo uma recuperação econômica robusta e acima do esperado. Em dezembro de 2023, a média das previsões indicava uma expansão de 3,49% para 2024, um indicativo do impacto positivo de medidas como o aumento do investimento público e a revalorização da indústria nacional.

A dívida líquida do setor público, outro indicador chave, também foi subestimada. Inicialmente projetada em 64,25% do PIB, encerrou 2024 com uma relação significativamente mais baixa (62,80%), resultado do fortalecimento da arrecadação e de ajustes fiscais promovidos pelo governo. O resultado primário, que no fim de 2023 estava projetado em déficit de 0,8% do PIB, surpreendeu ao apresentar uma trajetória de melhora, chegando a 0,5% - dentro da meta do arcabouço fiscal - ao fim de 2024.

LEIA MAIS: Mercado subestimou Lula e errou feio o PIB de 2024

Temas

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar