ECONOMIA

Maior IDH, PIB per capita e bibliotecas: os segredos da economia deste desconhecido estado indiano

Desde 1967, o poder nesta pequena província transita entre a centro-esquerda e os comunistas. E o resultado é surpreendente

Estudantes em biblioteca de KeralaCréditos: Instituto de Kerala para Treinamento em Pesquisa e Estudos de Desenvolvimento de Castas e Tribos
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Você provavelmente nunca ouviu falar de Kerala, um pequeno estado no sudoeste da Índia que continua desafiando paradigmas econômicos convencionais ao aliar um forte sistema de bem-estar social com crescimento sustentável.

Projetando atingir um Produto Interno Bruto Estadual de R$ 944 bilhões (US$ 160 bilhões) em 2024-25, Kerala ocupa a 11ª posição entre os estados indianos em termos econômicos, mas lidera nacionalmente em PIB per capita e desenvolvimento humano, oferecendo um modelo de progresso equitativo.

A economia de Kerala cresceu 12,01% em 2021-22, superando muitos estados indianos e a média do país (6,5%). Seu PIB per capita atingiu R$ 21.285 (US$ 3.607) em 2022-23, quase o dobro da média nacional de R$ 14.182 (US$ 2.402).

A disciplina fiscal do estado também se destaca: seu déficit orçamentário caiu de 2,23% para 0,88% do PIB entre 2021-22 e 2022-23.

O setor de serviços representa 66% da economia de Kerala, seguido pela indústria (23%) e pela agricultura (12%). Essa diversificação ajudou o estado a se proteger de choques globais, mantendo uma taxa de pobreza multidimensional de apenas 0,002—a mais baixa da Índia e similar a de estados europeus, segundo o Índice de Pobreza Multidimensional de 2023.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Kerala, de 0,801, o mais alto da Índia, reflete décadas de investimentos em educação e saúde. O IDH de Kerala supera o de todos os estados do Brasil, com exceção do Distrito Federal.

Com uma taxa de alfabetização de 93,91% e expectativa de vida de 74,9 anos, o estado supera regiões indianas mais ricas em ambos os critérios.

Os programas de bem-estar social também são avançados: 63% dos 4,67 milhões de beneficiários de pensões sociais são mulheres, garantindo inclusão financeira para idosos e populações vulneráveis.

A empregabilidade juvenil reforça ainda mais o potencial do estado: sua força de trabalho é a segunda mais qualificada da Índia, conectando educação e participação econômica.Outro dado curioso: apesar de ter 2,76% da população do país, Kerala possui 30% das bibliotecas da Índia. Isso também contribui para que essa massa de trabalho altamente qualificada migre para outros países, enviando remessas para suas famílias e contribuindo significativamente para a riqueza do estado.

Tudo isso passa pela política: desde 1967, o estado é governado pela esquerda em eleições democráticas. O poder passou cerca de 38 anos por diferentes partidos comunistas. Nos outros 19, foi governado pelo Congresso Nacional Indiano, partido de cntro esquerda de Jawaharlal Nehru e Indira Gandhi. A direita indiana nunca chegou perto de governar o estado.

Embora críticos apontem para pressões fiscais e dependência de remessas, a combinação de bem-estar público e pragmatismo econômico de Kerala desafia normas neoliberais.

Ao priorizar o capital humano em vez do crescimento centrado no PIB, Kerala demonstra que equidade e resiliência podem coexistir—uma lição para economias emergentes em todo o mundo.

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