A retomada das investigações contra Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), e que podem tragar o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, é apenas a ponta do iceberg que desnuda o esquema criminoso de especulação e lucro com a alta da Taxa Selic, que drena recursos do setor produtivo e de programas sociais para o bolso dos financistas que povoam os bancos de investimentos da Faria Lima e apostam suas fichas no cassino do "mercado".
Entenda a investigação contra Campos Neto, que pode perder cargo no BC antes do fim do mandato
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A estratégia de enriquecer sem trabalho é simples e pulverizada pelos "executivos" do sistema financeiro, com a promessa de ganho fácil sem esforço.
O esquema é usar a alta da Selic para ganhar com títulos da Dívida Pública - que com os juros em 10,5% deve fechar 2024 com um estoque em torno de R$ 7 trilhões.
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Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, 40% desse montante oscila de acordo com o sobe e desde da Selic.
De acordo com o próprio BC, a cada 1 ponto percentual de aumento da Selic, a dívida pública aumenta R$ 42,6 bilhões. O cálculo aproximado também vale para mudança no sentido contrário, ou seja, redução da taxa.
Ou seja, quando Campos Neto sobe a Selic favorece os especuladores, incluindo ele próprio, que apostam nos títulos da dívida pública. Com os juros atrativos, o dinheiro para investimento em capital produtivo - que gera empregos e desenvolvimento - fica mais caro.
Com o aumento da dívida, o governo é obrigado, então, a tirar recursos da Saúde, Educação, do Benefício de Prestação Continuada - o BPC, destinado a pessoas em situação de extrema vulnerabilidade -, entre outros para alimentar a sanha dos especuladores da Faria Lima.
A mais recente investida é sobre o aumento real do salário mínimo, concedido por Lula nos dois primeiros mandatos e retomada no terceiro, após a defasagem gigantes no pós golpe contra Dilma Rousseff (PT), em 2016.
No entanto, para os endinheirados e seus representantes, nos bancos e na mídia liberal, o salário mínimo reajustado para R$ 1.412 é motivo de "desespero" e justificaria a pantomima de Campos Neto e do Copom nas ameaças para a retomada do ciclo de aumento de juros.
FariaLimers
Um dos porta-vozes do chamado "mercado", que dá sustentação à política financista neoliberal de concentração de riqueza, o economista Pedro Paulo Silveira, o Pepa Silveira, criticou Lula pelo aumento real do salário mínimo o que, segundo ele, foi responsável por certo "desespero" dos agentes financeiros.
Em entrevista nesta quarta-feira (7) ao podcast Os Economistas, da Finclass - canal do "primo rico", codinome do influenciador Thiago Nigro -, Pepa falou das expectativas do mercado para 2026 e já prevê um pós Lula que fará o mesmo caminho de Paulo Guedes, ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro, de reduzir o aumento do salário mínimo abaixo da inflação.
Segundo o economista, diretor de gestão de recursos da Nova Futura Investimentos e que ostenta o título de "dono da Carteira Tri Campeã da Exame e Campeã da Valor", a redução do salário mínimo seria a solução para "estabilizar a relação dívida PIB" e evitar uma "crise".
"Se o Lula perde as eleições em 2026 e em 2027 alguém assume podendo com a caneta estabilizar a relação dívida PIB facilmente zerando déficit primário. Como? Reduzindo o aumento do salário mínimo", diz ele sobre a simples receita para saciar a gana dos banqueiros e aprofundar o fosso da desigualdade.
"Uma parte significativa das despesas - e a gente [mercado] reclama disso - é obrigatório: 3/5 das despesas já são obrigatórias se você colocar estados e municípios e elas são corrigidas a salário mínimo", emendou o economista, sem ao menos tocar nos R$ 816,2 bilhões que o governo federal pagou aos bancos como juros da dívida em 2023.
Em seguida, Pepa ataca Lula justamente por ter concedido aumento real no salário mínimo.
"Se o governo não tivesse feito esse aumento do salário mínimo que fez - ele deu 7% de aumento. Se tivesse dado só o IPCA [índice oficial da inflação] de 4%, ele teria economizado cerca de R$ 43 bilhões", diz.
O economista então fala dos desejos do mercado para a próxima eleição presidencial.
"Se chegar a uma situação em 2027 realmente preocupante, se o Lula perde, basta o presidente passar a corrigir o salário mínimo um pouco abaixo da inflação", diz. "Como isso é possível de ser feito, o mercado não se desespera agora. Então, há uma saída. O Paulo Guedes fez um ajuste assim, não teve uma reforma. O ajuste foi feito com base no ajuste do salário dos funcionários públicos", emendou.
Taxa Selic
Em outro momento da entrevista, Pedro Paulo Silveira, defendeu a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que ameaçou voltar a reajustar a taxa Selic, que foi mantida em 10,5%.
Após ironizar a "Paulista" - onde está a Fiesp e o setor produtivo, que é afetado pela alta de juros -, o economista defendeu a alta taxa de juros para "levar a inflação à meta".
No entanto, ele afirma que a maioria dos analistas do mercado ficou insatisfeito e esperava que Roberto Campos Neto conduzisse o Copom para um aumento da taxa básica de juros.
"O BC fez uma sinalização que era razoável, mas cindiu o ambiente dos economistas. Eu diria que 3/4 dessa pizza ficou insatisfeito, achando a sinalização muito 'dove', muito suave diante de um cenário de muita preocupação externa: EUA, Europa, China, Marte, Vênus, Júpiter. E sobretudo aqui no Brasil, esse caos fiscal... Muita gente achava que ele [Campos Neto] deveria colocar um torniquete maior no discurso para garantir a estabilidade das expectativas inflacionárias. Outro grupo, eu me encaixo nele, está mais tranquilo", afirmou.
Fascismo neoliberal
A aliança entre a Faria Lima e a ultradireita bolsonarista revela o elo entre fascismo e neoliberalismo, que fracassou ao impor pelas vias democráticas o Consenso de Washington e agora busca lideranças políticas autoritárias para impor as medidas propostas pelo sistema financeiro internacional nos anos 1980.
Constituído com base nas perspectivas do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, todos com sede na cidade de Washington D.C, o consenso traz os principais defendidos atualmente pelo neofascismo e a receita para seus defensores construírem fortuna a partir do aumento do fosso da desigualdade.
Defendidas nos anos 1990 pela "social democracia", a política de controle de inflação com juros altos, de arrocho nas contas públicas e entrega das empresas estatais ao capital estrangeiro agora é parte do ideário neofascista.
Paulo Guedes, Campos Neto e a "autonomia" do Banco Central seguem no comando da tropa financista e ceivam os farialimers com os juros altos para serem usados como bucha de canhão nessa guerra contra o capital produtivo e especialmente os mais pobres, de quem querem tirar até as migalhas do capitalismo selvagem.