O ministro da Fazenda de Lula, Fernando Haddad, criticou nesta segunda-feira (14) a fala de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que na última sexta-feira (11) anunciou um possível fim do crédito rotativo, modalidade de crédito conhecida pelos altos juros, que atingiram, em junho, 437,3% ao ano. Apesar de não ser recomendado ao consumidor cair no crédito rotativo, é essa modalidade que dá uma margem maior para a possibilidade de compras a prazo sem juros no cartão de crédito.
Na prática, as compras parceladas sem juros no cartão de crédito representam mais da metade das vendas em varejo e 40% do consumo das famílias. Ficariam praticamente inviáveis para o consumidor caso o crédito rotativo cair sem que nada compense sua queda no sistema de crédito.
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“Não pode mexer nisso aí. Até alimento está sendo comprado assim”, declarou Haddad para o podcast Reconversa, apresentado pelo jornalista Reinaldo Azevedo.
O Ministro da Fazenda diz que não está repreendendo Campos Neto e alega que sua declaração é um apelo ao presidente do BC para que considere o impacto da possível medida no varejo e na possibilidade da compra a prazo sem juros, modalidades que movimentam a economia brasileira pela base.
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De acordo com Campos Neto, que fez o anúncio durante comissão do Senado, seria a inadimplência das compras que caem no crédito rotativo (52%) o que forçaria os bancos a manter as taxas de juros nos níveis altíssimos superiores aos 400% ao ano. Para Haddad, limitar o parcelamento só beneficiaria os banqueiros.
A medida limitaria as compras parceladas sem juros para a imensa maioria de consumidores. Uma vez que o pagamento parcial das faturas estaria bloqueado, a liberação para compras a prazo poderia exigir maiores limites de garantia ao consumidor - por isso é pedida uma análise mais profunda do impacto e apresentação de uma contrapartida que minimize os efeitos na economia das famílias.
De acordo com Haddad, a medida poderia impactar negativamente no consumo e retardar a recuperação econômica da sociedade brasileira.
O que é o crédito rotativo e por que pode limitar compras a prazo
Quando um consumidor paga menos do que o valor total da fatura do cartão de crédito, ele pode optar pelo crédito rotativo. Esse crédito tem duração de 30 dias e, após esse período, a dívida é parcelada pelas instituições financeiras. É o caso, por exemplo, da realização do pagamento do valor mínimo da fatura, que muitas vezes equivale de 20% a 30% do valor da conta.
A cobrança é feita com base em juros compostos — juros sobre juros, aumentando o valor da dívida de forma exponencial. Devido ao risco de inadimplência, as taxas são altas.
O professor de finanças da Mackenzie, Hugo Garbe, indica que a medida é positiva para os consumidores. "Vira uma bola de neve, por isso a gente sempre indica não ficar devendo no crédito. O rotativo nunca é indicado. É preferível solicitar empréstimo pessoal e pagar o cartão, porque as taxas são mais baratas”.
As instituições bancárias foram pegas de surpresa com a declaração de Campos Neto, mas parecem demonstrar interesse em aderir à extinção do crédito rotativo. Eles sofrerão uma redução em suas carteiras de crédito, o que terá impacto na receita e pode levar a uma queda nas suas rentabilidades. No entanto, essa consequência é considerada limitada e chegaria apenas aos emissores de cartões.Nesse sentido, não seriam impactadas as credenciadoras, bandeiras e até mesmo o varejo.
Como opção ao crédito rotativo, os bancos e instituições financeiras precisam oferecer outra linha de empréstimo com condições mais favoráveis de incentivo, a fim de evitar o superendividamento dos brasileiros. Uma das opções geralmente disponíveis é o parcelamento do valor usado no rotativo.
Campos Neto afirmou ao Senado que em até 90 dias o BC apresentará uma solução para a equação.