ENQUADRO

O cerco se fecha contra Campos Neto por queda de juros

O presidente do Banco Central está isolado após cobranças públicas da empresária Luiza Trajano, do ministro da Fazenda Fernando Haddad e melhora de avalição do Brasil pela Standard & Poor’s

O cerco se fecha contra Campos Neto por queda de juros.Créditos: Agência Brasil / Divulgação
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O cerco está se fechando contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela queda taxa Selic. Nas últimas semanas, setores da indústria, do varejo e economistas têm cobrado de Neto que ele se junte ao esforço de fazer o Brasil retomar seu crescimento econômico, o que não será possível com a atual política do BC.

No início desta semana, Campos Neto foi confrontado pela empresária Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, durante um evento varejista.

"Nossa realidade é diferente. O varejo impulsiona tudo: a indústria, a construção, ele impulsiona tudo. Estamos enfrentando excesso de produtos. As indústrias não têm onde colocar. Nem sempre essa medida amarga resolveu a inflação. Já tivemos muitas medidas amargas. Portanto, se estou defendendo a queda dos juros, é por causa das pequenas e médias empresas. Se o senhor observar o balanço da nossa empresa, verá que temos dívidas de longo prazo... embora o lucro, quando consideramos os juros que pagamos... as despesas financeiras aumentaram para 32% para qualquer um de nós", explicou Trajano.

Em seguida, Luiza Trajano afirma que a queda dos juros é uma demanda de todo o setor varejista e é aplaudida pelos presentes. "Ninguém aguenta mais isso. Está acontecendo o efeito Americana... durante a pandemia, o mercado vendeu muito, mas após a pandemia é outra realidade. Então, eu queria te pedir: por favor, dê um sinal de redução desses juros. As pequenas e médias empresas não estão mais aguentando. Estou te pedindo. Todo mundo está assim. [Dirigindo-se ao público] Aplaudam, porque nos bastidores todos disseram a mesma coisa, agora vocês falem isso", declarou Trajano, sob aplausos.

Sentindo-se constrangido, Campos Neto começa a responder com sua habitual fala repleta de termos técnicos, mas logo é interrompido por Luiza Trajano. "Eu quero te pedir, em nome dos brasileiros: você pode dar um sinal de redução desses juros. Mas não apenas 0,25%, isso é muito pouco".

Enquanto tenta formular uma nova resposta, Campos Neto é confrontado novamente por Luiza Trajano. "Faremos um pacto para não aumentar os preços. Concordam, pessoal? Eles reduzem os juros e nós fazemos um pacto", diz Trajano, sendo interrompida por um assessor que menciona algo sobre a agenda de Campos Neto. A empresária ironiza: "Quando a situação aperta, os assessores passam recados", ironizou Trajano, levando o público aos risos."


Haddad: “O BC precisa se somar a esse esforço”

A nova classificação do Brasil atribuída pela agência atrairá mais investimentos para o país, uma vez que os fundos buscam nações com as melhores avaliações - ou seja, países considerados mais capazes de pagar suas dívidas.

Haddad celebrou a avaliação da Standard & Poor's, que veio acompanhada de uma queda histórica do dólar em relação ao real. A moeda norte-americana fechou esta quarta-feira (14) cotada a R$ 4,82, o menor índice em 1 ano.

"É um passo importante. Depois de 4 anos, termos uma sinalização dessas. Gostaria de compartilhar com o Congresso e o Judiciário as iniciativas que estão sendo tomadas na direção correta de arrumar as contas do Brasil e permitir que possamos avançar na geração de empregos", disse o ministro.

"Foi mencionada a nova regra fiscal, as perspectivas de aprovação da reforma tributária, as medidas de reoneração e o corte de gastos tributários. Tudo isso foi mencionado na nota. É importante que uma agência externa consiga observar esses avanços. Se mantivermos o ritmo de trabalho nas duas Casas e no Judiciário, acredito que conseguiremos alcançar nossos objetivos", acrescentou ele.

O ministro também aproveitou para pedir ao Banco Central (BC) que "se some a esse esforço", fazendo referência à alta taxa básica de juros fixada em 13,75% pela diretoria da instituição. "Há seis meses, ninguém imaginava que estaríamos na situação em que estamos hoje. Temos uma oportunidade única de fazer a diferença", concluiu Haddad.

Mercadante é aplaudido após defender redução de juros e reindustrialização

Na segunda-feira (12), o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloisio Mercadante, participou de um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Durante seu discurso, Mercadante defendeu a redução das taxas de juros e a reindustrialização do Brasil, recebendo uma ovação.

De forma irônica, Mercadante pediu a Campos Neto a queda da taxa Selic. "Eu não vou criticar o presidente do Banco Central, mas gostaria de pedir uma salva de palmas para a decisão que ele certamente tomará em benefício da economia brasileira", disse Mercadante, sob aplausos dos empresários.

Posteriormente, Mercadante defendeu os bancos públicos e a reindustrialização do Brasil. "Devemos incentivar o investimento e a produção internamente, onde empregos são gerados. Isso faz parte de uma política industrial. O BNDES é um banco público. Existem aproximadamente 520 bancos públicos no mundo, responsáveis por 15% dos investimentos na economia global. É importante observar que os países com bancos públicos e agências de fomento mais estruturadas e ativas são aqueles que mais cresceram nas últimas décadas", afirmou Mercadante.

Em seguida, Mercadante declarou que "não há desenvolvimento sem indústria". "O que está faltando agora é a presença da indústria no BNDES, na economia, na geração de empregos e no desenvolvimento. Nenhum país alcançou o desenvolvimento sem a indústria. Devemos acreditar na reindustrialização e o BNDES deve ser um parceiro nesse processo", concluiu Mercadante, recebendo fortes aplausos dos presentes.