ECONOMIA

Ozempic, visto como uma mina de ouro, poderia afundar a Dinamarca?

Laboratório que criou medicamento para tratar diabéticos e que virou sensação no combate à obesidade já é mais valioso que o PIB do país nórdico. Entenda qual é a preocupação

Medicamento Ozempic.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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O laboratório Novo Nordisk, de origem dinamarquesa, foi o criador de dois medicamentos que se tornaram uma sensação mundo afora e que despontam como fenômenos de vendas. O mais conhecido deles, o Ozempic, foi originalmente desenvolvido para o tratamento de diabetes tipo 2 em adultos, e em situação de descontrole, e logo passou a ser usado em pacientes que não sofrem com o problema, mas que precisavam derrotar a obesidade. Já o segundo, o Wegovy, é próprio para emagrecimento e assim como o Ozempic também viu sua procura disparar em todo o planeta.

Vendendo a todo vapor, a Novo Nordisk rapidamente transformou-se na empresa mais valiosa da Europa e seu valor de mercado, na somatória de todas as ações do grupo farmacêutico, chegou à casa dos US$ 410 bilhões. Para se ter uma ideia do que isso significa, o PIB (Produto Interno Bruto) da Dinamarca, um pequeno país do Norte europeu muito rico e com elevadíssimo padrão de vida, foi de US$ 400 bilhões em 2022. Ou seja, o “preço” da companhia que inventou o Ozempic e o Wegovy já é maior do que a soma de toda a riqueza produzida pela nação.

Mas você pode estar pensando: e isso não é bom? A resposta é simples, sim, é bom, especialmente para seus acionistas e para alguns indicadores da economia dinamarquesa, como a arrecadação tributária e o emprego, além, claro, de proporcionar mais investimento para novas pesquisas de outros fármacos. Só que há também um sério problema aí.

Há pouco mais de 20 anos, no início dos anos 2000, uma empresa de um país vizinho, a Finlândia, também ocupou uma posição parecida com a que hoje é atribuída à Novo Nordisk. Assim que os telefones celulares se popularizaram, a Nokia se popularizou e passou a dominar o mercado de tecnologia nesse setor em níveis globais. Todo mundo à época teve um famoso “tijolão” da empresa finlandesa, uns celulares duráveis e que não quebravam de jeito nenhum. Porém, a maré virou e com isso a economia da Finlândia pagou um preço alto.

A chegada dos primeiros smartphones, sobretudo com o surgimento do iPhone, na norte-americana Apple, a Nokia viu seus negócios naufragarem e os prejuízos começaram a se propagar em cadeia. O país dependia demais da empresa, fosse para gerar empregos, volume de negócios, ou ainda para a arrecadação fiscal, o que desencadeou uma forte crise e levou esse outro país nórdico a uma batizada “década perdida”. No auge de seu faturamento, só a arrecadação de impostos vinda da Nokia representava 25% dos que entrava nos cofres públicos finlandeses, ao passo que suas vendas correspondiam a 4% do PIB nacional.

“O que nós vemos é que na Dinamarca temos uma economia de dois ritmos: a indústria farmacêutica e o resto... O risco é você pensar que a economia está se saindo melhor do que realmente está”, afirmou Thomas Harr, economista-chefe do banco central da Dinamarca, no fim de setembro, quando perguntado sobre a possibilidade um problema semelhante ao que ocorreu com a Nokia, na Finlândia, se repetir em seu país.

“A Novo Nordisk é muito bem-sucedida e isso é ótimo para ela e para seus acionistas. Mas para a Dinamarca, estou preocupado de fato com o que acontecerá se algo der errado”, comentou um executivo de uma grande empresa dinamarquesa que teve sua opinião repercutida em muitos veículos de imprensa estrangeiros, mas que pediu para ficar no anonimato.

No entanto, há quem também garanta que não ocorrerá tal catástrofe econômica nas terras da Península da Jutlândia. Vice-primeiro-ministro da Dinamarca e ministro de Assuntos Econômicos, Jakob Ellemann-Jensen é curto e grosso ao afirmar que “há diferenças significativas entre a situação da Dinamarca de hoje e da Finlândia de 20 anos atrás”.

Para reforçar a tese de Ellemann-Jensen, o governador licenciado do Banco Central da Finlândia, que é candidato à presidência nas eleições de janeiro de 2024, reconheceu que a questão “é pertinente”, mas disse que “a Dinamarca tem uma estrutura industrial mais diversificada e uma predominância de pequenas e médias empresas”, o que dificultaria uma ocorrência por lá semelhante à experiência finlandesa do começo deste século.