CRISE ECONÔMICA

“Deflação não expressa a realidade do conjunto de preços”, diz Marcio Pochmann

O economista explica por que, apesar da crise, o IPCA de julho foi negativo (-0,68%), a menor taxa registrada desde o início da série histórica, em 1980; entenda

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), vive uma crise econômica das mais agudas, com milhões de pessoas passando fome ou em insegurança alimentar.

No entanto, informações divulgadas nesta terça-feira (9), apontam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho foi -0,68%, a menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. Ou seja, um cenário de deflação.

Porém, como isso é possível, uma vez que os preços dos produtos vendidos nos supermercados registram frequentes aumentos?

O economista Marcio Pochmann explica que “a deflação não expressa a realidade do conjunto de preços, mas resulta da queda do macropreço, que hoje é o combustível”, diz. “O combustível tem impacto geral, pois o país se move em função do álcool, diesel e gasolina”, completa.

Após inúmeros reajustes, o governo, em mais uma medida eleitoreira, baixou o preço da gasolina nas refinarias, na segunda quinzena de julho, de R$ 4,06 para R$ 3,86 por litro. A medida correspondeu a uma queda de 4,9% no valor do combustível.

Bolsonaro insiste e aposta nessa ação. No início de agosto, a Petrobrás anunciou redução de 20 centavos no preço do diesel nas refinarias. O novo valor, 3,7% mais baixo, começou a valer no dia 5. O litro, que antes custava R$ 5,61, passou a valer R$ 5,41.

Pochmann explica: “A inflação é um conceito que visa dimensionar a variação dos preços num momento em relação a outro. Para que esse conceito possa ter uma realidade prática é necessário que seja feita uma pesquisa prévia, que dimensione os lugares de compra e quais produtos são consumidos pela população para que se possa acompanhar, ao longo do tempo, a variação média desses produtos”.

“O IPCA, que é o índice que oficializa a medida de inflação no Brasil, refere-se às pessoas cuja renda varia de um a 30 salários mínimos mensais. Para poder chegar a um determinado número a cada mês, da conta que seria a evolução média dos preços, o IBGE vai a 30 mil lugares e colhe 430 mil preços de produtos, com base numa pesquisa anterior, acerca do custo de vida, que mede o consumo e os locais de compra das pessoas”, conta Pochmann.

“Houve queda na média dos preços expressa, justamente, por um dos principais produtos, que é o combustível”

Nesse sentido, segundo o economista, a inflação medida é a média de um conjunto enorme de preços de produtos. “O que nós verificamos como última medida de inflação, ou seja, deflação, é que houve uma queda na média dos preços comparáveis aos últimos 30 dias, expressa, justamente, por um dos principais produtos, que é o combustível, que puxou o nível de preços para baixo. Isso, enquanto outros preços subiram. Mas a sua proporção, sua ponderação em relação ao conjunto do indicador, é menor do que o peso decorrente dos combustíveis”, acrescenta.

“É por isso que se pode explicar, tecnicamente, que em julho a variação do IPCA foi negativa, na média do conjunto dos preços, embora alguns preços tenham subido muito mais do que outros, enquanto que o peso dos combustíveis foi o principal fator para justificar o que se denomina como sendo deflação”, conclui Pochmann.