Com o objetivo de aumentar sua popularidade, visando as eleições de outubro, Jair Bolsonaro (PL) liberou o saque de uma parcela do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) (entre R$ 1 mil e R$ 3 mil) para trabalhadores endividados.
A medida, aparentemente benéfica, traz inúmeros problemas, segundo a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).
Os saques estarão autorizados a partir do dia 20 de abril. Porém, antes mesmo do início, já foram registradas tentativas de golpes, especialmente por meio de redes sociais ou aplicativos de mensagens, com criminosos se passando por funcionários da Caixa para roubar o tão suado dinheiro dos trabalhadores.
Por isso, é necessário ficar atento para não ser prejudicado. A Caixa orienta que os cidadãos utilizem única e exclusivamente seus canais oficiais para buscar informações e acessos aos serviços, incluindo o saque do FGTS, nunca compartilhando dados pessoais, usuário de login e senha.
O banco ressalta que jamais pede para o cliente digitar ou informar senhas, não enviar SMS com link e só encaminha e-mails se a pessoa autorizar. Outra orientação é que o cliente não deve, em hipótese alguma, clicar em links recebidos por SMS, WhatsApp ou redes sociais para acesso a contas e valores a receber, como no caso do FGTS.
A Caixa reforça os principais cuidados que devem ser observados para evitar golpes:
Não fornecer senhas ou outros dados de acesso em sites ou aplicativos não oficiais, bem como em ligações telefônicas.
Não clicar em links suspeitos, que podem levar à instalação de programas espiões ocultos no celular ou computador, para coletar informações de navegação e dados do usuário.
Utilizar sempre navegadores e softwares de antivírus atualizados.
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O calendário do Saque Extraordinário do FGTS começa em 20 de abril e foi estabelecido de acordo com o mês de nascimento do trabalhador.
Veja o calendário completo de pagamento:
Fenae rechaça ideia de que a medida é benéfica para o trabalhador
Uma vez que é permitido pelo governo, é necessário tomar essa série de medidas para evitar golpes. Porém, o saque de parte do FGTS para saldar dívidas, embora não pareça, pode ser prejudicial tanto para o trabalhador quanto para a economia do país.
O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, reforça a tese: “A iniciativa não pode ser considerada um empréstimo, como vem sendo veiculado, porque o cotista não tem como devolver o valor para o Fundo”, afirma.
“Em segundo lugar, não há distinção se a pessoa está ou não endividada para a liberação do recurso. Não se trata muito menos de benesse do governo, já que o recurso é do trabalhador. Apesar de o governo alegar que pretende aquecer a economia, fica claro que o objetivo é, mais uma vez, atender aos interesses dos bancos, já que boa parte do endividamento da população é com o sistema financeiro”, ressalta Takemoto.
Ele relata que a Fenae defende que “medidas anticíclicas devam ser adotadas pelo governo. Entretanto essa conta não pode ser dos trabalhadores. Ao contrário de aquecer a economia, os excessos de saques diversos dos originais podem enfraquecer a capacidade do Fundo de fomentar a construção civil que, além de moradia, gera emprego. Sendo assim, os trabalhadores perdem duas vezes, já que diminuem suas reservas para usar no momento de necessidade e reduz a capacidade da economia de gerar empregos por meio da construção civil”, acrescenta.
Takemoto diz, ainda, que, desde 2017, os governos têm promovido várias modalidades de saques ao Fundo, o que representa uma grande ameaça a sua sustentabilidade, a médio e longo prazo, e à capacidade de financiar grandes projetos habitacionais, que favorecem a geração de empregos e a dinamização da economia.
“Só para dar um exemplo, nós pedimos um levantamento ao Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no ano passado, que mostrou que com todas as modalidades de saques entre 2017 e 2020, a arrecadação líquida acumulada do Fundo ficou negativa em R$ 58,3 bilhões. Estes recursos poderiam ser investidos em políticas públicas, como habitação popular, por exemplo. Agora, com os novos saques, a estimativa é que mais de R$ 20 bilhões sejam retirados do Fundo”, revela o presidente da Fenae.
Governo coloca o problema no colo do trabalhador
“O que o governo está fazendo é colocar o problema no colo do trabalhador: em caso de demissão ou doença grave, quando a pessoa estiver em situação de maior vulnerabilidade, o saldo do seu FGTS estará reduzido. E não resolve o problema”, ressalta.
“Nós encomendamos um outro estudo ao Dieese, que apontou que a saída apresentada pelo governo para conter o endividamento deixa de fora 58,6 milhões de brasileiros. São os 46,6 milhões de trabalhadores informais (assalariados, domésticos e outros trabalhadores sem registro formal) e 12 milhões de desempregados: brasileiros sem carteira assinada e, portanto, sem acesso ao FGTS. Dessa forma, ao sacar o valor, o trabalhador não poderá contar com ele para aquisição de casa própria, em casos de doenças graves ou quando da sua demissão, ou seja, poderá fazer muita falta no futuro, completa.