CRISE

Dependência de fertilizantes da Rússia deixa governo Bolsonaro em situação difícil

A necessidade que o Brasil tem de importar o insumo foi um dos principais motivos da visita de Bolsonaro à Rússia em fevereiro

Brasil será afetado.Créditos: Valter Campanato/Agência Brasil
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O Brasil é o quarto maior produtor de grãos do mundo e o segundo maior exportador. Essa produção exige o uso de fertilizantes. A questão é que hoje, com o governo de Jair Bolsonaro (PL), 85% desses produtos são comprados no mercado internacional.

A Rússia é um dos maiores fornecedores do insumo para o agronegócio brasileiro. O país chegou a esse nível de dependência, principalmente porque a Petrobras fechou uma unidade e vendeu três das fábricas de fertilizantes do país.

A necessidade que o Brasil tem de importar o insumo foi um dos principais motivos da visita de Jair Bolsonaro à Rússia em fevereiro.

Dessa forma, o Brasil se encontra em uma situação difícil em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia.

Deyvid Bacelar, coordenador-gral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ressalta que nos momentos de crise, como uma guerra, fica mais evidente o alto nível de dependência do Brasil de outros mercados.

“Dependemos da importação de fertilizantes, principalmente da Rússia, que antes a Petrobras produzia em Sergipe, Bahia e Paraná. Da mesma forma, a política de preços dos combustíveis, a privatização e subutilização de nossas refinarias, vêm tornando o país dependente da importação de derivados do petróleo”, destaca.

“Há alguns anos, chegamos à autossuficiência em extração e quase nos tornamos autossuficientes no refino. Cada vez mais, o consumidor e o próprio mercado interno vêm percebendo que privatizar setores estratégicos do Estado tem impacto direto na soberania nacional”, acrescenta Bacelar.

Gerson Castellano, petroquímico e diretor da FUP, lembra que a entidade, desde 2015, alerta sobre o risco de o Brasil ficar na dependência externa, principalmente de países com instabilidades políticas.

“Sabemos que qualquer conflito internacional nas regiões que têm petróleo e gás causam impacto no Brasil. No caso dos fertilizantes, a Petrobras arrendou a Fafen da Bahia e do Sergipe para a Unigel, que vem priorizando exportações de amônia a produzir ureia no país”, observa.

Castellano enfatiza que a produção de fertilizantes é estratégica para o país. “Comer é algo que independe de crenças. O ex-presidente dos EUA, George Bush, disse certa vez: ‘Vocês já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para sua população? Seria uma nação exposta às pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. Por isso, quando falamos de agricultura, estamos falando de uma questão de segurança nacional’. Esta fala é do Bush, um liberal. A questão alimentar é estratégica e extrapola ideologias”, completa o diretor da FUP.

Brasil aumenta dependência durante governo Bolsonaro

Nos últimos anos, o Brasil aumentou sua dependência de importação para suprir o mercado doméstico, enquanto suas unidades de fertilizantes permanecem desativadas.

Segundo dados da balança comercial brasileira, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pela área econômica da FUP, o Brasil gastou, em 2021, US$ 15,2 bilhões em importações de adubos e fertilizantes químicos. O valor é 90% maior do que o gasto em 2020. Foi o produto mais importado entre os itens da categoria “indústria de transformação”.

A Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras no Paraná (Fafen-PR), em Araucária, está fechada desde março de 2020. Era responsável pela produção de 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia e 65% do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), aditivo para veículos de grande porte que atua na redução de emissões atmosféricas.

A Fafen-BA, cujos principais produtos são amônia, ureia, gás carbônico e Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32), foi paralisada em 2018 e arrendada à Proquigel, subsidiária da Unigel, em 2020, bem como a Fafen-SE, produtora de ureia fertilizante, ureia para uso industrial, amônia, gás carbônico e sulfato de amônio (também usado como fertilizante).

No dia 4 de fevereiro, o grupo russo Acron comprou a fábrica de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, que está com mais de 80% das obras concluídas.