Para a economista Juliane Furno, economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), a alta nos preços dos combustíveis anunciada nesta quinta-feira (10), pela Petrobras vai impactar e muito nos índices de inflação.
De acordo com ela, “se você pegar atualmente a inflação e abrir por grupo de itens, combustíveis já é o principal responsável”. A Petrobras anunciou aumento de 18,8% na gasolina e 24,9% no diesel.
O reajuste passa a valer a partir desta sexta-feira (11). O preço médio de venda da gasolina da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro. Para o diesel, o preço médio vai de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro.
Choque de custos
Para a economista, “o aumento de 25% no diesel, que é o preço que determina o custo de transporte das mercadorias, vai ter um efeito em cadeia típico de um ‘choque de custos’ na linguagem na linguagem econômica”.
Ela explica que “esse custo vai pressionar a formação do preço final, fazendo a mercadoria que a gente compra ficar mais cara”.
Pequenos empresários
Ela alerta que “alguns estabelecimentos, principalmente os menores, talvez não consigam repassar esse custo, porque a renda das pessoas está tão baixa que se o sapato aumentar 10 reais, por exemplo, é capaz de ele não ser vendido”.
“O pequeno empresário vai absorver pra ele esse custo ou parte dele, mas ele não poderá fazer isso na próxima rodada de aumento, assim ou ele vai demitir ou vai quebrar, aprofundando ainda mais a crise e ajudando a concentrar ainda mais o mercado com o fechamento das pequenas empresas”, lamenta.
Impacto nas famílias
Já o impacto nas famílias, ela afirma que tende a ser mais individual e vai empobrece-las ainda mais, “consumindo uma parte maior da renda, dificultando que sobre um pouco mais para o consumo de outros coisas. Isso tem um efeito perverso, porque essas famílias vão deixar de comprar outras coisas, o que vai aprofundar a crise de demanda”
Ela lembra ainda que “o aumento no GLP é a restrição de um direito humano”.
Ao ser questionada sobre o impacto disso na reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), ela diz que pode ser uma jogada de mestre.
“Ele aumenta bem agora, cria uma situação de caos e convence até o mercado de que é necessário agir, mas aí segue posando de liberal não intervencionista, que só atuou nos preços porque a situação se tornou insustentável”, considera.
Ao final, questionada se essa tese será considerada mesmo depois do presidente admitir que o reajuste nos preços dos combustíveis é resultante da dolarização, ela acha que sim. “Essa política de preços não tem precedente em países que produzem e refinam petróleo próprio”, encerra.