O Brasil é um país com extensa herança escravagista expressa no racismo cotidiano, incluindo no que tange à diferença salarial entre pretos, brancos e pardos, mas todos já sabemos disso. A novidade, que talvez não seja tão nova para muita gente, é que nos últimos dez anos não houve avanços significativos na busca pela isonomia salarial. De acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os trabalhadores pretos ganham em média 40,2% a menos que os brancos. A cifra mudou muito pouco na última década.
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De acordo com o IBGE, 9,1% da população brasileira é preta, enquanto 47% se declara parda. Já em termos de força de trabalho, os pretos são 10,2% e os pardos 45%.
Em média, o brasileiro recebe R$ 15,23 por hora trabalhada. Mas se levarmos em consideração o recorte racial, vemos a média dos brancos subir para R$ 19,22 e as dos pretos e pardos cair para R$ 11,49 e R$ 11,84, respectivamente. Na prática, um trabalhador branco estaria trabalhando cerca de 63 horas mensais para atingir um salário equivalente ao salário mínimo, de aproximadamente R$ 1200. Um trabalhador preto, no entanto, trabalharia 105,5 horas para ganhar o mesmo salário.
Ainda de acordo com a pesquisa do PNAD-IBGE, cujos dados atualizados se referem ao segundo trimestre de 2022, na mesma época do ano em 2012 o valor pago por hora para um trabalhador preto estava 42,8% menor que o de um branco, na média nacional.
As explicações são diversas, como é complexo o problema relatado. A começar pela presença massiva de pessoas brancas em cargos que demandam ensino superior. De acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgados no ano passado, quase dois terços dos cargos de nível superior estão nas mãos de trabalhadores brancos, enquanto pretos e pardos dividem o outro terço. Além disso, o enorme mercado de trabalho informal e a discriminação racial cotidiana e direta influenciam na falta de isonomia salarial entre as raças.
Distrito Federal x Pernambuco
Mas os dados apresentados anteriormente são uma média nacional. Se formos para as unidades federativas (estados e Distrito Federal), veremos que em Pernambuco, a diferença salarial entre pretos e brancos estava em 45,7% em 2012 e caiu para 19,4% em 2022. É a menor discrepância registrada no país. Por outro lado, o Distrito Federal apresenta a maior diferença: 51%.
Em Brasília, onde o serviço público é um dos principais empregadores, 48,1% dos servidores são brancos, 24% são pardos e apenas 4,2% são pretos. O restante é de pessoas oriundas de colônias asiáticas e de povos indígenas, entre outras etnias, que acabam por ficar com uma estatística própria. Os dados são do Ministério do Planejamento.
Já em Pernambuco, onde a maioria da população é de pretos e pardos, as políticas públicas dos primeiros governos de Lula (PT), sobretudo as que previam cotas em universidades, foram fundamentais para a diminuição da desigualdade. Mas ainda há um longo caminho a ser seguido no Estado, e em todo o país, até que a isonomia seja atingida.
*Com informações do G1.