As políticas econômicas do governo Bolsonaro, alinhadas com os interesses de parcela do setor financeiro, têm servido para aumentar a pobreza e a miséria no país. Resultado disso, é que o país voltou a figurar no mapa da fome.
Para piorar o que já era ruim, surgiu o coronavírus, que levou o mundo, consequentemente, à pandemia. Soma-se a isso, a completa ausência de políticas do governo federal voltadas à parcela mais pobre da sociedade brasileira.
Diante desse quadro de ruína, o setor de alimento, nos últimos 12 meses, foi o que registrou a maior alta, que ficou entre 20% e 40% desde o início da pandemia. Hoje, a inflação oficial está um pouco acima de 10%.
Segundo levantamento feito pela Folha, o desemprego subiu 8,5 pontos percentuais para a parcela mais pobre.
Alta dos preços dos alimentos e desemprego, segundo o estudo, acarretaram uma queda aguda no poder aquisitivo dos mais pobres, o que levo ao aumento da fome e da miséria no Brasil.
Nos últimos 12 meses, momento em que os alimentos dispararam 20%, a renda real familiar per capita o trabalho na metade mais pobre despencou 18%, de R$ 210 mensais para R$ 172.
Estudo da Fundação Getúlio Vargas Social (FGV Social), 27,4 milhões de brasileiros (13% da população) vivem hoje om menos de R$ 261 por mês, a maior taxa de miseráveis em uma década.
Fim do Bolsa Família deixa milhões de beneficiários na incerteza
Nesta sexta-feira (29) o Programa Bolsa Família realizou o pagamento de sua última parcela, o que pode ser entendido como o fim de uma era.
Todavia, o fim de uma era não significa necessariamente que uma outra vai se iniciar, pois, o Auxílio Brasil, programa do governo Bolsonaro que visa substituir o Bolsa Família, ainda está cercado de incertezas quanto a sua viabilidade.
Ao longo de 18 anos, o programa Bolsa Família, criado nos governos do PT (200-16), já foi considerado como um dos melhores no mundo e um modelo a ser replicado em outros países no que diz respeito a políticas de distribuição de renda.
Atualmente, são (eram) atendidos pelo programa Bolsa Família 14,84 milhões e os beneficiários agora só vivem de incertezas sobre o programa substituto.
Estudo divulgado pelo Ipea em 2019 apontou que, em 2017, as transferências do programa retiraram 3,4 milhões de pessoas da pobreza extrema e outras 3,2 milhões da pobreza.
O levantamento também indica que, entre 2001 e 2015, o Bolsa Família respondeu por uma redução de 10% da desigualdade no país.
Em 2020, um relatório publicado pelo Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do Ministério da Economia, em 2020, apontou que o programa obteve sucesso em reduzir a pobreza no Brasil de “modo significativo”.
O programa Auxílio Brasil depende da aprovação da PEC dos Precatórios no Congresso Nacional. Porém, o governo já trabalha com a possibilidade de isso não aconteça e, ao invés de instituir a nova política, decretaria novo estado de calamidade e prorrogaria por mais um ano o Auxílio Emergencial no valor de R$ 220.
Como se vê, a única certeza nesse momento é o fim do Bolsa Família e o risco de milhares de famílias ficarem desassistidas e retornada à miséria extrema
Brasil pode viver situação de miséria inédita
Com as incertezas que rondam o programa Auxílio Brasil e o futuro do auxílio emergencial, a economista Tereza Campello, uma das criadoras e gestoras do Bolsa Família atenta para o fato de que o Brasil pode viver um momento inédito em termos de miséria de pessoas desassistidas.
“O poder de compra do Bolsa Família hoje seria de R$ 300, só que naquela ocasião a gente tinha 4% de desemprego. Então hoje você tem mais de 20% de desemprego, se somar o desemprego aberto e o oculto, e eles dizem que vão aumentar e vão fazer um programa muito melhor, não vão conseguir nem chegar no valor do Bolsa Família de 2014”, analisa Campello.
Em seguida, a economista explica que o país pode viver uma situação de miséria inédita em sua história. “É uma situação dramática. Se eles não fizerem nada, a situação de caos e de desproteção será um padrão jamais visto na história do Brasil recente, do pós-Segunda Guerra. Nós desconhecemos uma situação parecida.”
Com informações da Folha de S. Paulo