DEPORTAÇÃO

Brasileiros deportados relatam agressões de agentes dos EUA em voo: 'iriam nos matar'

Ministra dos Direitos Humanos esteve com imigrantes em Confins (MG) para prestar acolhimento e apurar denúncias

Brasileiros deportados relatam agressões de agentes dos EUA.
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A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, viajou até Confins (MG) para receber os brasileiros deportados dos Estados Unidos pelo governo de Donald Trump neste sábado (25). A ministra afirma que recebeu uma série de denúncias de agressões e maus-tratos "muito graves" pelos agentes dos EUA durante o voo de deportação. 

Chegando ao Brasil, eles relataram que foram agredidos e colocados em situações precárias dentro da aeronave. O brasileiro Carlos Vinícius Jesus, de 29 anos, afirmou que os agentes norte-americanos queriam "matá-los". 

"Nós que nos rebelamos contra eles, porque eles iriam nos matar. O avião parou três vezes, lá em Luisiana (EUA), no Panamá e Manaus. Nós que paramos o avião, senão ia cair tudo", disse Carlos à imprensa.

“Foi terrível, vim preso nos braços, nas pernas e na cintura, eles não respeitaram a gente. Bateram em nós. Disseram que iam deixar derrubar o avião e que o nosso governo não era de nada”, acrescentou o brasileiro ao G1

Vitor Gustavo, de 21 anos, relatou que os agentes dos EUA bateram nos deportados por conta do calor. "Eles bateram na gente porque a gente tava com calor e a gente não queria ficar preso no avião mais". A aeronave apresentou problemas técnicos em relação ao ar-condicionado.

'Um inferno'

A brasileira Sandra Souza, 36, definiu o voo de deportação como um "inferno". "Foi um inferno, uma tortura. Desde que a gente saiu de Luisiana, deu para perceber que o avião estava com algum problema. Mesmo assim, eles forçaram. Acho que foi uma falta de compromisso deles", contou. 

O vigilante Jeferson Maia também relatou ao Metrópoles que os brasileiros ficaram mais de 50 horas acorrentados e não podiam nem ir ao banheiro com privacidade. Além disso, crianças estavam chorando devido ao calor. Ele ainda conta que, ao pedir, junto a outros brasileiros, para sair devido aos problemas da aeronave, ele foi enforcado por um dos agentes.

Aeliton Cândido conta que os agentes também não deixavam os brasileiros beber água ou comer e que, quando alguém tentava, os agente agrediam. Ele chegou a mostrar dois ferimentos, um no pescoço e um na perna. "Foi na marra que conseguimos vencer essa batalha com ajuda do governo [brasileiro] e da Polícia Federal", disse.

Luis Fernando Caetano contou que não foi agredido, mas viu pelo menos quatro pessoas sofrerem agressão dos agentes. "Estavam 'tudo algemado'. Os caras meteram o porrete sem dó. Desumano", contou. Ele relatou que viu pessoas sendo chutadas e jogadas no chão. 

Os brasileiros deportados vieram dos EUA nesta sexta-feira (25) com destino ao Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte (MG), mas a aeronave apresentou problemas técnicos e precisou realizar um pouso de emergência em Manaus. Ao saber sobre violações durante o voo, o presidente Lula (PT) determinou que a Força Aérea Brasileira (FAB) finalizasse a deportação dos brasileiros.

Ao receber os brasileiros deportados, a ministra Macaé reforçou que o posicionamento do governo brasileiro "é que os países podem ter suas políticas imigratórias, mas nunca podemos desrespeitar os direitos humanos".

Brasileiros chegam algemados e acorrentados; governo Lula intervém

Ao saber que os brasileiros deportados dos EUA estavam algemados e acorrentados mesmo após chegarem ao Brasil, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, exigiu a imediata retirada das algemas e correntes. O ministro afirmou que a decisão era um "flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros".

Em nota, o ministério também informou que mandou a Polícia Federal a Manaus (AM), onde o voo de deportação precisou realizar uma parada de emergência, para recepcionar os brasileiros. Além disso, o presidente Lula determinou que a Força Aérea Brasileira (FAB) faça o transporte dos brasileiros até o destino final "de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança", afirma o ministério.

"Ao tomar conhecimento da situação, o Presidente Lula determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança", diz a nota.

O voo tinha como destino inicial o Aeroporto Internacional de Confins (MG), mas precisou fazer um pouso de emergência na noite desta sexta-feira (24) em Manaus devido a problemas técnicos. 

"O Ministério da Justiça e Segurança Pública enfatiza que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis", acrescenta.

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