SALVADOR (BA)

Pesquisa nacional e formação de lideranças são lançadas em abertura do Mês da Filantropia Negra

Com o tema "Futuros da Filantropia Negra - uma homenagem a Martin Luther King e Nêgo Bispo”, mês da filantropia direcionada a pessoas negras foi oficialmente aberto

Futuros da Filantropia Negra - uma homenagem a Martin Luther King e Nêgo Bispo.Créditos: Divulgação/GIFE
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A atmosfera da capital baiana foi escolhida para a abertura oficial do Mês da Filantropia Negra, na última quinta-feira (8). Promovido pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) — referência nacional em fortalecimento do Investimento Social Privado (ISP) e de ações filantrópicas de impacto — o encontro teve como tema "Futuros da Filantropia Negra - uma homenagem a Martin Luther King e Nêgo Bispo”.

Com enfoque no afrofuturismo, especialistas em equidade racial analisaram propostas de ações práticas voltadas a impulsionar o papel das organizações negras e o potencial das iniciativas de doação e finanças comunitárias. Duas iniciativas foram lançadas pelo GIFE: uma pesquisa no terceiro setor que vai revelar um retrato nacional do ISP e de ações de diversidade direcionados a questões raciais; e um ciclo formativo para o fortalecimento de lideranças negras que atuam no segmento do Investimento Social Privado.

“O encontro deste ano, além de reconhecer a filantropia negra como uma prática ancestral, também vislumbra como caminho para um futuro mais equitativo e justo”, disse o secretário-geral do GIFE, Cassio França.

Três eixos nortearam os debates: ações para impulsionar o futuro da doação negra nos próximos anos; as implicações para a filantropia na promoção de um futuro equitativo; e os fatores que promovem o bem-viver, a equidade e a justiça.

“A inspiração no afrofuturismo contemporâneo tem o propósito de estimular a cocriação de um futuro mais próspero para as comunidades e organizações negras”, explica a coordenadora de Projetos do GIFE e da abertura oficial em Salvador, Thais Nascimento. “O objetivo é contribuirmos para a ampliação das possibilidades das doações negras e das finanças comunitárias em escala global”, acrescenta.

A realização do encontro na Bahia integra as iniciativas do GIFE de descentralizar as reflexões para o crescimento e a sustentabilidade do investimento privado para ações de impacto social, em todas as regiões do país. Pretende, ainda, envolver não só ativistas negros como também aliados brancos na conscientização, corresponsabilização e participação efetiva na filantropia direcionada a beneficiar comunidades negras.

Divulgação/GIFE

“Os princípios de Nêgo Bispo na defesa de estratégias de longo prazo e o legado de Martin Luther King sobre justiça social e igualdade econômica inspiram e reforçam a necessidade de se abordar a interseção entre justiça social e ambiental nas práticas filantrópicas. Esta filantropia busca desconstruir padrões coloniais, o que pode contribuir para a criação de um amanhã melhor às comunidades negras, à sociedade e ao planeta” ressalta Thais Nascimento.

Agosto

O Mês da Filantropia Negra — “Black Philanthropy Month (BPM)”, na sigla em inglês — é um movimento mundial que acontece há 23 anos, todo mês de agosto, envolvendo cerca de 60 países, com o objetivo de tornar a filantropia negra mais poderosa e equitativa. O BPM foi criado pela cientista social e porta-voz em equidade racial no mundo Jacqueline Copeland, que esteve pela primeira vez no Brasil para a abertura oficial do Mês da Filantropia Negra 2023, também promovida pelo GIFE.

Esta edição 2024 é realizada pelo GIFE e o The WISE Fund, um fundo que apoia mulheres negras, afrodescendentes e tecnólogas do Brasil, África, Austrália, Índia e Estados Unidos. Este ano, o Mês da Filantropia Negra é apoiado pela Fundação Grupo Volkswagen, Aegea Saneamento, Imaginable Futures, Instituto C&A, B3 Social e Fundação Maria Emília.

"Ao oferecer suporte para iniciativas que promovam a equidade racial, fortalecemos comunidades e criamos um impacto positivo duradouro na sociedade. Apoiar medidas como estas é fundamental para um desenvolvimento social mais justo e igualitário", enfatiza o diretor-superintendente e de Relações Institucionais da Fundação Grupo Volkswagen, Vitor Hugo Neia.

Pesquisa

Em uma parceria do GIFE com o Fundo Agbara, uma pesquisa no terceiro setor vai revelar o retrato nacional do Investimento Social Privado (ISP) e de ações de diversidade direcionados a questões raciais. O levantamento abrange 2,2 mil instituições que fazem ISP no país e Organizações da Sociedade Civil (OSCs) que desenvolvem iniciativas com recursos captados na filantropia. “Entre as instituições do universo do Investimento Social Privado participantes do estudo, mais de 80% são investidores associados ao GIFE”, pontua a gerente de Pesquisa do Fundo Agbara, Lua Batista.

Um dos recortes da pesquisa — prevista para ser concluída no próximo mês de novembro — diz respeito à atual participação de pessoas de diferentes raças nos conselhos das OSCs e das organizações que fazem Investimento Social Privado. Dados do Censo GIFE 2022-2023 mostraram que os conselhos deliberativos de associados ao Grupo são pouco diversos: em 3/4 (74%) destes colegiados não havia negros ou indígenas.

Lideranças Negras

Outra ação lançada pelo GIFE é voltada ao fortalecimento de lideranças negras no país. O “Ciclo Formativo para o ISP e a Filantropia” tem o objetivo de oferecer a pessoas negras ferramentas e conhecimentos para que lideranças possam ocupar cargos de alto nível no ISP e na filantropia.

Embora as mulheres representem 53,5% da força de trabalho entre pessoas negras, segundo o IBGE, dados divulgados recentemente pelo Instituto Ethos apontam que brasileiras negras representavam, em 2020, apenas 0,4% dos cargos de presidente e 0,9% das posições de vice-presidente de 500 maiores empresas do país.

“As organizações da sociedade civil desempenham um papel importante e central na conquista e garantia de direitos e justiça social no Brasil”, afirma o secretário-geral do GIFE. “Desta forma, o propósito do ciclo formativo é proporcionar ainda mais conhecimento e expertise a lideranças negras para que elas, e consequentemente as OSCs, se fortaleçam neste campo que tanto pode contribuir para o desenvolvimento do país, de forma verdadeiramente equitativa e sustentável”, emenda Cassio França.

Conforme explica Thais Nascimento, a formação dará a lideranças negras uma visão ampla e crítica da filantropia no país, desde as raízes históricas até os desafios e as oportunidades do cenário contemporâneo. Segundo a coordenadora de Projetos do GIFE, o ciclo formativo abrangerá temas como decolonialidade, periferias, justiça social e filantropia estratégica. “Permitindo uma compreensão profunda da multifacetada natureza do Investimento Social Privado no Brasil”, observa.