PRECARIZAÇÃO

Quase 60% dos motoristas e entregadores de aplicativo já sofreu com agressão, racismo e assaltos

Pesquisa afirma que a categoria exerce jornadas de trabalho exaustivas, com baixa remuneração e muita violência

A carga horária da categoria quase chega a 10 horas por dia, com 6,4 dias trabalhados por semana.Créditos: Pixabay
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Que os motoristas e entregadores que prestam serviços às plataformas digitais sofrem condições instáveis de trabalho, vivendo frequentemente no desamparo trabalhista, não é novidade. No entanto, um estudo realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) aponta que 58,9% desses trabalhadores sofreram com violência, agressão, assaltos e acidentes.

A pesquisa foi realizada entre março de 2021 e junho de 2023, com profissionais de Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraná e São Paulo. Liderada pelo projeto "Caminhos do Trabalho" e em parceria com a Fundacentro, o estudo mostra que 63,6% dos motociclistas sofreram alguma das seguintes adversidades: assalto, alvo de tiro, adoecimento, acidente de trânsito ou agressão. O número muda conforme o veículo, sendo 50% a quantidade de ciclistas que passaram por alguma dessas situações e 45,5% dos motoristas de carro.

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Em 2020, o projeto "Caminhos do Trabalho" identificou que 1 a cada 3 entrevistados havia se acidentado enquanto prestava serviço às plataformas. Uma das principais possíveis causas dessa taxa considerável é a extensa jornada de trabalho exercida pelos trabalhadores. A média de dias trabalhados, segundo a UFBA, é de 6,4 dias por semana e 9h54min por dia; 55,3% trabalham todos os dias e 56,9% alegam prestar serviço por 10 horas ou mais.

O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) fez uma pesquisa, patrocinada pela Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) que demonstra que 25% dos entregadores de aplicativos sofreram acidentes, 18% foram vítimas de racismo ou violência de gênero e 8% foram assaltados nos últimos três meses. 

Embora os riscos sejam altos, a remuneração permanece baixa, assim como a assistência das plataformas: de acordo com os entrevistados da pesquisa da UFBA, a média de salário mensal é R$ 2.579, sem considerar quaisquer despesas de manutenção. Por veículo, o salário médio é de R$ 2.849 para os carros, R$ 2.755 para as motos e R$ 1.553 para as bicicletas

Salários

Quando o salário foi analisado através dos prints e extratos bancários disponibilizados pelos entrevistados, o valor de renda bruta é ainda menorR$ 1.737 é o valor médio, sendo R$ 1..817 o valor de motoristas de carros, R$ 1.803 os motociclistas e R$ 779 os ciclistas.

O levantamento não considerou custos e despesas necessárias para se manter como prestador de serviço para os aplicativos, mas é possível deduzir que, ao considerar gastos como gasolina, dentre outros custos diários, o salário de motoristas e entregadores de aplicativo está pouco acima do salário mínimo e, em alguns casos, abaixo dele, como para os ciclistas.

O estudo entrevistou 160 pessoas, com média de 35 anos, sendo 96,9% homens, 93,2% são pretos ou pardos, 72% possuem o ensino médio completo e 81,8% residem em Salvador, Bahia. Quanto às empresas para as quais são prestados os serviços, estão: IFood, Uber, Rappi, Zé Delivery, Lala Move, James Cornershop, Chipfy, Ame Flash e Chip (Americanas). Os profissionais costumam trabalhar de 1 a 2 destas empresas e 73,5% deles trabalham mais de um ano.