O racismo estrutural está instituído em diversos espaços sociais e a linguagem também é afetada por palavras e expressões que muitos sequer imaginam que tenham origem ou conotação racista.
Algumas expressões utilizadas no cotidiano da população carregam histórias problemáticas por trás de suas criações. Uma parte delas é mais explícita, outra nem tanto.
“Mercado negro”, que nomeia economias paralelas e organizações financeiras clandestinas, é um exemplo. A língua portuguesa carrega, consigo, o costume de fazer a ligação entre a palavra “negro” e “negra” às coisas vistas, socialmente, como negativas.
“Ovelha negra”, “A coisa tá preta”, “Cor de pele” são algumas outras expressões que denunciam essa situação. A palavra “negro” e “negra” também são utilizadas para definirem grupos étnicos-culturais que possuam ascendência afro-brasileira e, a partir do momento em que elas são apropriadas para exprimirem situações negativas, subentende-se que essa parcela da população também é “ruim”.
Gabriel Nascimento, autor da tese “Do limão faço uma limonada: estratégias de resistência de professores negros de língua inglesa”, defendida através da Universidade de São Paulo (USP), elaborou o termo “racismo linguístico”, que significa, justamente, o uso de frases que apresentam o racismo estrutural em sua construção.
De acordo com o pesquisador, esse tipo de racismo acaba por reforçar atitudes, ações e outras maneiras de cometer o racismo na sociedade, normalizando esse crime.
Reconheça outras frases que contêm conotação racista
Crioulo ou crioula
A palavra era utilizada para se referir às pessoas escravizadas de forma pejorativa durante o Brasil colonial.
Cor do pecado
Utilizada para referenciar o “bronze do verão” que as mulheres brasileiras costumam desejar, essa frase acaba por carregar preconceito racial e aborda uma relação das pessoas negras com a luxúria.
Denegrir
A expressão, a qual deixa a entender a ação de “tornar alguma coisa negra”, também é racista, pois expressa o ato de “manchar uma reputação”. Outras palavras, como difamar, são opções de substituição.
Dia de preto
Essa expressão é utilizada para mencionar dias úteis da semana onde se trabalha. Justamente por isso, o “dia de preto” é conhecido como um dia de sofrimento, trabalho árduo, o que, historicamente, é relacionado às pessoas escravizadas.
Escravo ou escrava
Embora seja uma palavra comum, dizer que alguém é “escravo” ou “escrava”, linguisticamente, desumaniza a pessoa, uma vez que a atribui como um objeto antes de um ser humano. Por isso, o correto é se referir como uma “pessoa escravizada”, pois ela não nasceu e nem faz parte das características dela ser uma escrava, mas está em condição de escravidão.
Inhaca
A palavra Inhaca deriva de uma ilha em Moçambique, no continente africano. A expressão é utilizada para traduzir o mal cheiro, coisas mórbidas, nojentas, etc..
Mulata
A palavra “mulata”, além de ser utilizada para hiperssexualizar a mulher negra, também expressava a diferença racial: mulheres negras mais claras costumavam ser chamadas assim, evidenciando o racismo, uma vez que estas eram consideradas “mais bonitas”, por serem “mais claras” do que as demais.