TRAGÉDIA HUMANITÁRIA

Indígenas Yanomami “não podem ficar na mata, parecendo bicho”, diz governador de Roraima

Declarações ofensivas do bolsonarista Antonio Denarium (PP) contra indígenas motivaram MPF a abrir inquérito para apurar responsabilidade do governo do estado

O governador de Roraima Antonio Denarium.Créditos: Valter Campanato/Agência Brasil
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Apesar da tragédia humanitária, que atinge os indígenas Yaniomami, o governador de Roraima, o bolsonarista Antonio Denarium (PP), parece que não se sensibilizou com o drama dos povos originários na região. Por isso, o Ministério Público Federal (MPF) decidiu instaurar inquérito contra as afirmações dele.

O órgão vai apurar a responsabilidade cível do governo do estado, depois de declarações ofensivas de Denarium, que disse que os indígenas “têm que se aculturar e não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”.

A afirmação ocorreu em entrevista à Folha de S.Paulo, na qual o governador respondia sobre os projetos na Terra Indígena Yanomami. Segundo o MPF de Roraima, as falas têm “potencial discriminatório”, conforme aponta o Artigo 20 da Lei sobre Crimes de Preconceito de Raça ou de Cor, de acordo com a Agência Brasil.

O procurador Alisson Marugal considerou que as declarações ofendem a imagem coletiva dos Yanomami, rotulando-os como bichos, e expressam opinião depreciativa que implicaria que os indígenas não poderiam viver seu modo de vida tradicional.

O Conselho Indígena de Roraima, organização representativa de 261 comunidades, divulgou uma nota para repudiar as falas de Denarium e ressaltou que o governador de Roraima minimiza o grave estado de calamidade pública enfrentado pelos povos indígenas Yanomami por causa da invasão de seu território por garimpeiros ilegais.

O Conselho solicitou investigação na Procuradoria da República do estado, Superintendência da Polícia Federal e nos ministérios dos Povos Indígenas e da Justiça.

Documento do MPF é encaminhado à PGR

O documento do MPF já foi enviado ao procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, a quem cabe instaurar apuração criminal de conduta e denunciar o governador ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), caso haja indícios de ato criminoso.

A Secretaria de Comunicação do governo de Roraima disse que as informações repassadas por Denarium foram tiradas do contexto na matéria veiculada. E que, em momento algum, o governador fez qualquer citação discriminatória, e que o desejo pela melhoria da vida das pessoas seria o desejo de qualquer pessoa que valoriza a dignidade de indígenas ou não.