DIREITO AO CORPO

O que é suicídio assistido, método ao qual o ator Alain Delon vai se submeter

À imprensa, o astro do cinema francês declarou que a partir de certa idade "é a coisa mais lógica a se fazer"

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O ator Alain Delon, que está com 86 anos e é um ícone do cinema francês, entrou com pedido de eutanásia. A informação foi confirmada por um dos filhos do ator, Anthony, que está incumbido de organizar o processo e acompanhar o pai em seus momentos finais. 

O astro do cinema francês declarou em recentes entrevistas que não hesitaria em recorrer à medida se necessário. Alain Delon vive na Suíça, onde a eutanásia é permitida. Para o ator, "é a coisa mais lógica e natural a se fazer a partir de uma certa idade, de um certo momento". 

Desde que Alain Delon tornou pública a sua decisão, a discussão sobre eutanásia, morte assistida e direito ao corpo voltou à tona. 

Em alguns países a eutanásia e a morte assistida são legalizadas, em outros apenas a eutanásia e para casos específicos, como doenças terminais. No texto a seguir, explicamos a diferença entre elas e onde são legalizadas. 

Eutanásia 

A eutanásia é o método utilizado para abreviar a vida de um paciente que está em estado terminal ou que esteja sujeito à dores e sofrimentos intoleráveis físicos ou psíquicos. 

O embasamento teórico e ético da eutanásia parte do princípio de que todos os sujeitos têm o direito de pôr fim a sua vida caso esteja enfrentando situações críticas e irreversíveis.  

De modo geral a eutanásia tem por objetivo proporcionar uma morte suave e indolor, para encerrar o sofrimento prolongado de um paciente. Todavia, como é o caso do Brasil, a eutanásia é tratada como o "ato de matar uma pessoa ou ajudá-la a cometer suicídio.

 

Morte assistida 


Diferentemente da eutanásia que, em geral está relacionada a um caso de saúde irreversível, a morte assistia (que também é chamada de "suicídio assistido"), a pessoa, por escolha própria, decide por colocar fim à sua vida. O quadro pode estar relacionado à saúde ou não. Por exemplo, o ator Alain Delon não está doente, mas argumenta que já viveu o suficiente e que agora quer morrer, eis um caso de morte ou suicídio assistido. 

Por causa disso o debate sobre a morte assistida é envolto de moralidade religiosa, pois, como é interpretado como um suicídio, países como o Brasil, onde a religião interfere na discussão legislativa, tal prática é condenada. 

Juridicamente, a diferença entre morte assistida e eutanásia: a morte assistida a criação do risco é gerada pelo próprio paciente (auto colocação em risco, diante de conduta própria). O agente ou a pessoa que auxilia, não é envolvida em ato criador de risco. Essa é diferença entre eutanásia e morte assistida. 

Dessa maneira, fica entendido que: o suicídio assistido e a eutanásia "são práticas realizadas para abreviar a vida de pacientes que estão em sofrimento insuportável e sem perspectiva de melhora.

“No suicídio assistido, o paciente, de forma intencional, com ajuda de terceiros, põe fim à própria vida, ingerindo ou autoadministrando medicamentos letais. 

Na chamada eutanásia ativa, uma terceira pessoa, a pedido do paciente, administra-lhe agente letal, com a intenção de abreviar a vida e acabar com o sofrimento", diz pesquisa realizada em hospital universitário sobre eutanásia e morte assistida. 

Países onde a eutanásia e a morte assistida são legais 

A Holanda foi um dos primeiros países a legalizar a eutanásia. Desde 2002 é permitido administrar um medicamento que cause a morte quando um paciente solicita, com pleno conhecimentos dos fatos e se este estiver vivendo "sofrimento insuportável e interminável" diante de uma doença considerada incurável. 

A Bélgica, também em 2002, legalizou a eutanásia. Neste caso, o paciente pode fazer uma declaração antecipada, que tem validade por 5 anos. 

Em Portugal a eutanásia só é permitida em "casos desesperadores". Uma atualização da lei está em discussão na Suprema Corte do país e o seu escopo pode ser ampliado e autorizar a morte assistida. 

O Tribunal Constitucional da Itália, em 2019, descriminalizou o suicídio assistido. Todavia, a legislação entre em conflito com uma lei, ainda em vigor, que proíbe qualquer foram de morte assistida. 

Por sua vez, a Suíça permite o suicídio assistido e a eutanásia ativa e passiva. 

Em 2005 a França aprovou lei que instituiu o "direito de deixar morrer, que consiste na aplicação de medicamentos que levam à sedação profunda até a morte. 

A eutanásia passiva é legal na Suécia desde 2010. 

Nos Estados Unidos alguns estados permitem a eutanásia e a morte assistida, com variações legais: Oregon, Washington, Montana, Vermont e Califórnia. 

A Colômbia é o único país da América Latina onde a eutanásia ativa é permitida. Ela foi descriminalizada em 1997, mas só foi regulamentada em 2015. Em julho de 2021, o Tribunal Constitucional do país ampliou a lei e incluiu o direito a uma morte digna para os pacientes que sofrem "intenso sofrimento físico ou mental" devido a doença incurável ou lesão.

No Brasil a eutanásia e a morte assistida são consideradas crimes de homicídio. 

A morte assistida no cinema 

Em 2004 a discussão sobre a morte assistida voltou à tona por causa do filme espanhol "Mar adentro", dirigido por Alejandro Amenábar e estrelado por Javier Bardem. 

O longa é baseado na biografia de Ramón Sampedro, um homem que sofre um acidente e fica tetraplégico. 

Sampedro inicia uma discussão e uma busca legal pelo direito de morrer. O filme recebeu o Oscar de Melhor filme estrangeiro em 2005.