"Fugimos do Congo para que não nos matassem": frase vai estampar faixa em quiosque no Rio

A frase é da mãe de Möise, congolês assassinado de forma bárbara no Rio de Janeiro, e será usada em ato promovido por ONG

Atos pelo Brasil pedem justiça ao congolês Moïse (Foto: @quentindelaroche)
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"Fugimos do Congo para que não nos matassem. Mas mataram meu filho aqui". A frase foi dita pela mãe do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, assassinado de maneira brutal após cobrar uma dívida de trabalho em um quiosque no Rio de Janeiro.

A mesma frase estampará uma faixa de protesto que será colocada no quiosque em questão, na Barra da Tijuca, na manhã desta sexta-feira (4). A ação será encampada pela ONG Rio de Paz com o intuito de "cobrar uma investigação isenta e célere sobre o caso".

Atos por justiça a Moïse

Coalização Negra por Direitos, a comunidade congolesa no Rio de Janeiro e em São Paulo, movimentos antirracistas e a família de Moïse Mugenyi, refugiado congolês que foi brutalmente assassinado em um quiosque na Barra da Tijuca, organizam atos e manifestações por justiça.

Moïse foi espancado com socos, chutes e pauladas até a morte por um grupo de homens na madrugada da última segunda-feira (31), após ter ido ao quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, para cobrar por dois dias de serviço que tinha prestado no local.

No Rio de Janeiro, a manifestação ocorrerá no próximo sábado (5), a partir das 10h, em frente ao quiosque onde aconteceu o assassinato, no posto 8 da praia da Barra da Tijuca.

Já em São Paulo o ato acontecerá também no sábado (5), às 10h, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista.

À Mídia Ninja, Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos, informou que a entidade se reunirá, em breve, com o Subcomitê de Prevenção à Tortura da Organização das Nações Unidas (ONU) para denunciar o assassinato de Moïse e “em fortalecimento às denúncias já articuladas pelas organizações negras e de direitos humanos locais, do estado do Rio de Janeiro”.

O crime

Moïse foi, na segunda-feira (24), cobrar duas diárias no quiosque Tropicália, que fica próximo ao Posto 8, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ele prestava serviços de ajudante de cozinha no local. A informação é da sua família.

Logo após ele chegar ao local, surgiram três homens, um deles com um taco de beisebol nas mãos, que o cercaram, o jogaram no chão e desferiram, pelo menos, 26 pauladas em Moïse, que continuou apanhando mesmo desacordado. As imagens podem ser vistas nas câmeras de segurança do quiosque.

Moïse foi encontrado morto, no chão, com as mãos e pés amarrados. De acordo com laudo do IML (Instituto Médico Legal), ele morreu em decorrência de traumatismos no tórax, com contusão pulmonar causada por ação contundente. O laudo diz ainda que os pulmões apresentavam áreas hemorrágicas de contusão e também vestígios de broncoaspiração de sangue.

Estão presos temporariamente pelo crime Brendon Alexander Luz da SilvaFábio Pirineus e Aleson Cristiano. Os três aparecem nas imagens do espancamento. Ao depor, todos negaram que quisessem matar o congolês. Brendon, porém, disse ter a “consciência tranquila”, enquanto Aleson afirmou que, ao bater no imigrante com um taco de beisebol, “resolveu extravasar a raiva que estava sentindo”.

Dono diz que não conhece agressores e nega dívida

Mais de oito pessoas já prestaram depoimento à DH (Delegacia de Homicídios da Capital). Um dos ouvidos foi o dono do quiosque, que não teve a identidade revelada. Ele negou envolvimento no crime e disse que estava em casa no momento da agressão que resultou na morte de Moïse.

Um casal que prestou depoimento à Polícia Civil como testemunha do assassinato revelou, ainda, que acionou a Guarda Municipal para tentar salvar o homem, mas foi ignorado pelos agentes.

Segundo reportagem do jornalista Flávio Trindade, de “O Globo”, o casal tentou ajudar Moïse ao ver os três homens o espancando no quiosque Tropicália, na praia da Barra da Tijuca. Eles afirmaram à polícia que acionaram dois guardas municipais que estavam presentes no local, mas eles passaram direto.

O casal, então, voltou ao local para tentar ajudar por conta própria. Os agressores tentaram mantê-los afastado da vítima, mas nas imagens, a mulher aparece tentando reavivar o congolês com uma massagem cardíaca. Já era tarde.