VIOLÊNCIA NO CAMPO

Crianças estão com medo de ir para escola após morte do menino Jonatas, diz líder camponês de Pernambuco

O Ministério dos Direitos Humanos não tem prestado nenhuma assistência às famílias de Engenho Roncadorzinho, aterrorizada pela morte de Jonatas, de 9 anos, na última quinta-feira

Cícero Fabrício.Créditos: Reprodução
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O assassinato do menino Jonatas de Oliveira dos Santos, de 9 anos, por pistoleiros deixou um clima de medo e tensão entre os agricultores familiares de Engenho Roncadorzinho, localizado no município de Barreiros, na Mata Sul de Pernambuco. A criança foi assassinada na última quinta-feira (10) durante um atentado promovido por um grupo de pistoleiros contra o pai de Jonatas, o líder social Geovane da Silva Santos. Geovane é o presidente da associação de agricultores familiares do local.

Em vídeo enviado à Fórum, o vice-presidente da associação, Cícero Fabrício, comenta sobre a situação da comunidade, ainda aterrorizada pelo crime brutal. Jonatas se escondia debaixo da cama junto da mãe quando foi morto por um grupo de sete pistoleiros que invadiu a casa da família em um atentado contra Geovane, que sobreviveu.

"O negócio que aconteceu aqui foi terrível. A gente ainda não sabe quem foi, não suspeitamos de ninguém até agora, mas a população está arrasada", afirma Cícero Fabrício.

"As crianças estão tudo com medo de estudar no Engenho Cachoeira Linda por conta desse negócio que aconteceu com a criancinha de 9 anos. O povo está todo abalado, abalado mesmo", completou o líder camponês. Segundo o agricultor, as famílias só estão conseguindo dormir mais tranquilas por conta de uma ronda policial que está sendo realizada na região desde que o crime ocorreu.

"O negócio está triste, terrível mesmo. Queremos que a justiça tome as providências para saber quem foi que fez isso. Queremos que o governo do estado, pelo amor de deus, que ele tome as providências. Já foi embora uma criança... Não estamos acusando ninguém, mas nós estamos ameaçados de sermos despejados. Pelo amor de Deus, Paulo Câmara, tome as providências, pelo amor de Deus!", acrescentou Cícero, fazendo um apelo ao governador Paulo Câmara (PSB).

"Se formos despejados, será outro crime", finalizou.

A Fórum conversou com uma das professoras da escola em que Jonatas estudava. Ela confirmou que muitas crianças e pais de alunos estão com medo de ir ao colégio, principalmente na unidade educacional de Engenho Cachoeira Linda, que fica em um local mais afastado, com menos moradores. "É um momento muito difícil para todo mundo", declarou.

Assista:

Ministério de Direitos Humanos ignora famílias de Roncadorzinho

As entidades que vêm prestando apoio á população de Roncadorzinho são a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) de Barreiros. O Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec) também visitou os moradores nesta segunda-feira (14).

A família de Jonatas prestou depoimento à Polícia nesta segunda.

O Ministério de Direitos Humanos, comandado pela ministra Damares Alves, não prestou qualquer assistência às famílias que vivem no local e estão amedrontadas com o crime cruel contra o menino. Isso contraria o discurso que a ministra tenta emplacar de que se preocupa com a família e com as crianças.

O Ministério Público de Pernambuco também teria atuado de forma residual.

O deputado federal Carlos Veras (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, cobrou apuração rigorosa das autoridades na sexta-feira (11). A CDHM da Câmara chegou a realizar diligências no local em dezembro do ano passado após a denúncia de outro atentado. A CDHM da Câmara voltará ao local na sexta-feira, em conjunto com a CDH do Senado Federal, presidida por Humberto Costa (PT-PE).

Ocupação em Engenho Roncadorzinho é alvo de pistoleiros

A comunidade de Engenho Roncadorzinho já foi alvo de outros atendados que foram denunciados às autoridades pelos agricultores locais e por entidades como a CPT e a Fetape.

A ocupação das famílias se deu após falência das usinas onde trabalhavam ou eram credoras, mas nunca receberam as devidas indenizações. O Engenho foi propriedade da Usina Central Barreiros, atualmente uma Massa Falida sob administração do Poder Judiciário, que o arrendou à empresa Agropecuária JavariA comunidade existe há 40 anos e abriga cerca de 400 trabalhadores rurais posseiros, sendo 150 delas crianças.