O menino Jonatas de Oliveira dos Santos, de 9 anos, foi vítima de um atentado na noite de quinta-feira (10) promovido por um grupo de pistoleiros que invadiram a casa em que a criança morava com a mãe e o pai, o líder social Geovane da Silva Santos, em Engenho Roncadorzinho, no município de Barreiros, interior de Pernambuco. Geovane é o presidente da associação de agricultores familiares do local.
Leia também: Menino Jonatas, assassinado por pistoleiros em atentado em PE, recebe homenagens em velório; veja vídeo
Segundo informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o crime bárbaro aconteceu por volta das 21h, quando sete homens encapuzados e fortemente armados invadiram a casa do presidente da associação e atiraram no trabalhador rural, que foi atingido de raspão no ombro. Geovane sobrevivem ao atentado.
Não satisfeitos de dispararem no líder camponês, os pistoleiros atiraram no filho do agricultor, Jonatas, que se escondia debaixo da cama com a mãe. A criança não resistiu aos disparos e morreu.
A casa do presidente da associação já foi alvo de outros atendados que foram denunciados às autoridades pelos agricultores locais e por entidades como a Pastoral da Terra e a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape). A família e a comunidade estão aterrorizadas e em estado de choque.
Casos de violência no campo explodiram durante o governo Bolsonaro.
A ocupação em Engenho Roncadorzinho
Segundo a Pastoral da Terra, a ocupação das famílias se deu após falência das usinas onde trabalhavam ou eram credoras, mas nunca receberam as devidas indenizações. O Engenho foi propriedade da Usina Central Barreiros, atualmente uma Massa Falida sob administração do Poder Judiciário, que o arrendou. A comunidade existe há 40 anos e abriga cerca de 400 trabalhadores rurais posseiros, sendo 150 delas crianças.
Nos últimos anos, a comunidade vem sofrendo diversas ameaças e violências promovidas por empresas que exploram economicamente a área, com intimidações, destruição de lavouras e com contaminação das fontes de água e cacimbas do imóvel por meio da aplicação direcionada e criminosa de agrotóxico de alta toxidade, segundo a Fetape.
Os casos de violência contra a comunidade vêm sendo denunciados pela FETAPE e pela CPT há vários meses, sem que medidas efetivas sejam tomadas por parte do Estado para solucionar a tensão e a violência no local.
A Fórum entrou em contato com a CPT em busca de maiores informações sobre as empresas que exploram economicamente a área e podem ser as responsáveis pelos assédios aos trabalhadores rurais. Ainda aguardamos mais detalhes.
Comissão de Direitos Humanos da Câmara pede investigação séria
O deputado federal Carlos Veras (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, cobrou apuração rigorosa das autoridades. A CDHM da Câmara chegou a realizar diligências no local em dezembro do ano passado.
“É estarrecedor saber que uma criança, que tinha um futuro todo pela frente foi assassinada dessa forma. É urgente que as circunstâncias da morte sejam apuradas e os autores, responsabilizados. Vamos acompanhar o caso de perto e, inclusive, já adotamos providências no sentido de cobrar respostas das autoridades responsáveis”, disse Veras.
Segundo a assessoria do deputados, a CDHM enviou ofícios para o governador do Estado, Paulo Câmara (PSB), para o procurador-geral de Justiça e para o secretário de Defesa Social de Pernambuco.
Nos documentos, o presidente lembra a diligência realizada pela CDH na região da Mata Sul de Pernambuco em 15 de dezembro, quando recebeu denúncias dos agricultores familiares e procurou contribuir com a mediação de conflitos na região. “É gravíssimo que menos de dois meses depois um atentado tire a vida de uma criança”, apontou o presidente da CDHM.
Atualização às 19h