Ocupada com "erotização precoce", Damares se cala sobre assassinato bárbaro de congolês

Ministra dos Direitos Humanos, ao invés de prestar assistência à família de Moïse, dá declarações associando a gravidez infantil ao aplicativo TikTok

Damares Alves (Foto: Willian Meira/MMFDH)
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A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, não proferiu sequer uma palavra, até a noite desta terça-feira (1), sobre o assassinato bárbaro, a pauladas, do congolês Moïse Mugenyi, no Rio de Janeiro.

A pastora evangélica vem sendo cobrada nas redes sociais a prestar assistência à família do refugiado assassinado, papel esperado de uma ministra que tem como responsabilidade atuar na defesa dos direitos humanos.

Ao longo desta terça-feira (1), no entanto, Damares ignorou a principal notícia da imprensa nacional e se ocupou com um evento, promovido pelo seu ministério, de lançamento da "Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência", em Brasília.

Durante o evento, foi lançado um programa de "prevenção primária do risco sexual precoce e gravidez de adolescentes". Trata-se de um projeto baseado no discurso da ministra, que é antiaborto, inclusive o legal, sobre "erotização precoce", que carrega teor parecido com a inexistente "ideologia de gênero" que Jair Bolsonaro dizia querer combater.

"Gente, esse ano vamos combater a erotização precoce. Os pais precisam ficar atentos", escreveu Damares em suas redes sociais, enquanto o país cobrava justiça pelo assassinato do refugiado congolês.

Na cerimônia de lançamento da campanha em Brasília, Damares, ainda, chegou a associar a gravidez infantil ao uso do aplicativo TikTok.

"Não vem papai e mamãe jogar no colo do Ministério da Saúde: ‘resolva, minha filha engravidou’, depois que deixou sua filha ir pro TikTok vender seu corpo. Uma coisa está muito atrelada com a outra", disparou.

Assassinato bárbaro

Vieram à tona nesta terça-feira (1) as imagens da câmera de segurança do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro), onde o refugiado congolês Moïse Mugenyi foi assassinado a pauladas após cobrar pagamento de dois dias de serviço no local.

No vídeo, obtido pelo jornal Extra e já sob análise da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que investiga o caso, é possível ver que três homens espancam Moïse com chutes, socos e pauladas. As imagens mostram ainda que os agressores amarram o congolês pelos pés e mãos com pedaços de fio.

Após algum tempo de espancamento, uma mulher ainda se junta aos homens que agrediam Moïse para tentar reanimá-lo com uma massagem cardíaca. O refugiado, no entanto, morreu em decorrência das agressões.

Um dos suspeitos se entregra

Um dos homens que participaram do assassinato de Moïser se entregou à polícia nesta terça-feira (1).

O suspeito, que não teve a identidade revelada, se apresentou na 34ª Delegacia de Polícia de Bangu e depois foi encaminhado à Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, onde permanece detido.

Também nesta terça-feira, a prefeitura do Rio suspendeu o alvará de funcionamento do quiosque Tropicália. O dono do estabelecimento deve prestar depoimento à polícia até esta quarta-feira (3).

Polícia faz “proteção” do quiosque

Uma viatura da PM foi filmada na manhã desta terça-feira (1º), estacionada em frente ao quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, local onde o congolês Moïse Mugenyi, foi assassinado a pauladas após cobrar pagamento de dois dias de serviço no local.

As imagens, postadas pelo SBT Rio, vieram com a legenda: “carro da polícia militar está em frente ao quiosque Tropicália. O local segue fechado. Hoje um funcionário chegou a abrir uma das janelas do estabelecimento, mas depois foi embora.”

Internautas ligaram o fato com uma hipotética proteção de policiais ao local. “PM fazendo a segurança do quiosque. Sem a menor vergonha do papel canalha que cumprem na sociedade”, escreveu um. Outro retuitou o vídeo e afirmou: “Alguma dúvida sobre a quem pertence o quiosque do assassino racista?”

Morto a pauladas

Moïse foi espancado na última segunda-feira (24) até a morte com pedaços de pau por um grupo de 3 homens na praia da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso.

O estrangeiro veio ao Brasil com a família em 2014 para fugir da fome e da guerra no Congo.