Durante entrevista exclusiva à TV Fórum e à TV 247, o ativista Rodrigo Pilha deu detalhes sobre a tortura sofrida por ele durante a detenção no Complexo Penitenciário da Papuda. Pilha ficou preso do dia 18 de março até o dia 11 de julho por estender uma faixa chamando o presidente Jair Bolsonaro de genocida. Apesar de destacar que outros presos também eram vítimas de tortura, o relato de Pilha reforça que ele foi alvo de perseguição política no sistema penitenciário.
Segundo Pilha, logo que chegou na Papuda ele foi identificado por agentes penitenciários como "vagabundo do PT que estava falando mal do Bolsonaro". A Fórum revelou os tratamento cruéis empreendidos contra Pilha em reportagens durante a prisão dele, confira aqui um resumo do caso.
Pilha 'vagabundo do PT'
"Quando eu chego no pátio eu penso: ‘eu cheguei no inferno’. Quando eu passo, um cara fala ‘esse deve estar por tráfico’ e meu espancador responde: ‘esse é aquele vagabundo do PT’. Aí eu sento e vem o cara: ‘É ou não é aquele vagabundo do PT?”. E enquanto isso o chefe do pátio diz ‘o direito de vocês é não ter direito, ninguém mandou vir pra cá’. E nisso o agente me dá a primeira porrada: ‘Responde, porra, é ou não é o vagabundo do PT que estava na manifestação?’. Eu disse que sim e ele já deu nova porrada: ‘Sim, senhor'. Aí o cara vem: ‘Qual teu crime?’. Respondi que foi por embriaguez ao volante e desacato. E vem mais um chute: ‘Gosta de desacatar polícia, vagabundo?”, disse em relato aos jornalistas Renato Rovai e Leonardo Attuch.
O ativista afirma que o policial perguntou o que ele estava fazendo no ato da faixa "Bolsonaro Genocida". Pilha respondeu que estava acompanhando os manifestantes e filmando o protesto, mas isso não satisfez o agente.
“Mentira, vagabundo, tu tava lá falando mal do Bolsonaro, né? Carguinho comissionado do PT, né, vagabundo? Por isso que Bolsonaro veio para cá, para acabar com vocês. 43 anos e ainda não tem emprego decente, seu vagabundo", teria dito o oficial durante a sessão de espancamento.
"Até que eu escutei alguém falar 'chega, né, chega'. Eu já tava quase desmaiando, não só pelas porradas, mas pela quantidade de gás que esses caras tavam jogando nos outros presos em volta, disse Pilha.
O ativista afirma ainda que após a sessão, o oficial retirou a colher que ele tinha recebido para comer. "Vagabundo do PT não tem direito de comer de colher aqui não. Dignidade da pessoa humana", teria dito o oficial ao retirar o talher.
"Atropelo"
Na entrevista, ele também contou sobre a relação com os presos. Pilha disse que foi bem recebido, apesar de os policiais tentarem jogar os colegas de cela contra ele. Segundo ele, o grupo o acolheu, principalmente após revelar que a reação do sistema carcenário pode ter sido mais forte em razão dele ter integrado a equipe da deputada federal Érika Kokay (PT-DF), conhecida como "mãe dos presos" por atuar em defesa dos direitos da população carcerária junto aos familiares. "O Estado que tinha que fazer minha custódia me torturou e me espancou, e os 'bandidos', o que os conservadores tratam como 'lixo social', foram os que me abraçaram", disse,
Ao anoitecer, veio a segunda sessão de tortura sofrida por Pilha, em uma prática conhecida como "atropelo", quando o agente entra na cela e agride todos os presos. "O policial entrou gritando 'procedimento', para todos irem para o fundo da cela. Ele já chegou espancando, agredindo. Quando ele chegou em mim, depois de me bater, abriu um saco de sabão e virou na minha cabeça. Não foi em todos, foi somente em mim", revelou. O sabão em pó queima a pele machucada.
Finalizada a sessão, o agente avisa: "vocês ficam dando ideia para esse petista vagabundo, vou voltar aqui de madrugada e dar outro atropelo".
Pilha disse ainda que os agentes identificados por ele como seus torturadores devem ser denunciados pelo Ministério Público.
Parte desses relatos foram trazidos em reportagem do Blog do Rovai em 29 de abril.
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