Com mensagens de "Bolsonaro 2022" e até ameaça de morte, hackers invadem apresentação acadêmica sobre indígenas

Ataque contra a apresentação virtual de pós-doutorado do professor Alvaro de Azevedo Gonzaga acontece justamente no Mês da Consciência Indígena; "Era um momento de celebração", lamentou o docente. Assista à exposição do trabalho

O professor Alvaro de Azevedo Gonzaga durante a apresentação de sua pesquisa (Reprodução/YouTube)
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Um grupo de hackers invadiu, na tarde desta terça-feira (27), a apresentação virtual de uma pesquisa de pós-doutorado feita pelo professor Alvaro de Azevedo Gonzaga, doutor e livre-docente em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A pesquisa, intitulada "Decolonialismo Indígena", foi realizada pelo professor junto ao Departamento de História da Universidade Federal da Grande Dourados, do Mato Grosso do Sul, e trata sobre história indígena e indigenismo.

Gonzaga estava falando sobre questões externas ao texto de sua pesquisa, como palestras que realizou, quando foi surpreendido pela invasão. Os hackers postaram, no estúdio virtual, mensagens como "Bolsonaro 2022" e uma série de xingamentos, como "bandidos comunistas", e outras mais ameaçadoras, como "vou te matar". Com o intuito de prejudicar a apresentação, os invasores ainda colocaram para tocar o áudio conhecido como "gemidão do zap".

Descendente de indígenas Guarani Kaiowá, o professor contou a Fórum que ficou "nervoso e constrangido" com a invasão, ainda mais por ela ter se dado justamente no Mês da Consciência Indígena. Para o docente, o tema de sua apresentação, "seguramente", foi a motivação para os ataques.

"Debater a questão indígena hoje em dia é muito difícil. E os povos originários têm dificuldades de debater esse tema de maneira civilizada com as pessoas, porque as pessoas têm uma série de mitos sobre os indígenas", afirmou Gonzaga.

"Naturalmente isso [a questão indígena] incomoda pessoas que não têm afeição pelos povos originários (...) Era um momento de festa, de celebrar o Mês da Consciência Indígena, e aí sofremos esses atos", atestou o professor.

Após a invasão, a apresentação foi retomada em um outro estúdio virtual, com transmissão pelo YouTube. Confira a íntegra da exposição do trabalho, que vai virar livro, aqui.