Mais uma vez o Padre Júlio Lancelotti, pároco da Igreja de São Miguel Arcanjo, em São Paulo, demonstrou que faz mais pela população em situação de vulnerabilidade da cidade do que muitos gestores municipais.
O religioso, que tem um extenso trabalho junto à população em situação de rua, virou notícia nesta terça-feira (2) ao resolver, pessoalmente e usando uma marreta, retirar as pedras instaladas pela prefeitura de São Paulo embaixo de um viaduto próximo à avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, zona leste da cidade.
A obra, concluída na tarde da última quinta-feira (28), tinha o objetivo de impedir que moradores de rua durmam no local. As pedras são presas ao chão por uma espessa camada de cimento, na parte debaixo do viaduto.
Na segunda-feira (1), Padre Júlio visitou o local e mostrou indignação, classificando a obra da prefeitura como "arquitetura higienista". Nesta terça-feira, então, voltou ao viaduto para iniciar a remoção das pedras usando uma marreta.
À Fórum, o pároco revelou que desde terça-feira, diante da repercussão negativa da instalação das pedras, a gestão municipal enviou trabalhadores para retirá-las manualmente. "Eles começaram a tirar desde ontem, manualmente, mas era uma quantidade muito grande. Aí peguei a marreta e comecei a tirar", contou.
Segundo o padre, muitas pessoas, após começarem a circular as fotos dele retirando as pedras com a marreta, foram até o local para ajudar e o fato começou a ganhar destaque na mídia, o que teria motivado a prefeitura, nesta terça-feira, a mandar equipes maiores, com equipamentos adequados, para finalizar a remoção.
"Quando eles perceberam que isso estava gerando muita imagem, chamaram duas escavadeiras e começaram a tirar. Na hora que eu estava lá chegaram as escavadeiras, com 5 caminhões e mais de 30 funcionários, porque estava vindo muita gente fotografando. Ficaram com medo da imagem", atestou o religioso.
Em nota, a prefeitura de São Paulo informou que "a implantação de pedras sob viadutos foi uma decisão isolada, que não faz parte da política de zeladoria da gestão municipal, tanto é que foi imediatamente determinada a remoção". Para Padre Júlio, no entanto, a versão na gestão de Bruno Covas (PSDB) não é verídica: "Isso [a retirada] foi por causa da repercussão na mídia", reforçou.
De acordo com censo feito pela prefeitura em 2019, a capital tem 24.344 moradores de rua. A região da Subprefeitura da Mooca, onde ficam os viadutos que receberam as pedras, concentrava 835 pessoas em situação de rua, ficando atrás apenas da Subprefeitura Sé (7.593).