Voluntários que realizavam uma distribuição de cestas básicas na favela da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (20) relataram a morte de mais um jovem por ação policial durante a pandemia. O caso aconteceu um dia depois do menino João Pedro, de 14 anos, ser encontrado morto no Instituto Médico Legal (IML). A vítima da vez foi João Vitor, de 18 anos.
Segundo o Voz das Comunidades, o jovem foi baleado durante ação do Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Bope) e colocado dentro de um caveirão. Ele foi levado para o Hospital Lourenço Jorge, mas não resistiu.
O conselheiro tutelar e morador da Cidade de Deus, Jota Marques, disse que o rapaz baleado tinha saído de casa para ir comprar pipa. "Ele faleceu. Estamos cansados. A gente não tem direito de entregar comida, a gente não tem direito a cuidar dos nossos. A gente não tem direito a nada", desabafou Marques no Twitter.
Os voluntários ouvidos pelo Voz disseram que tentaram identificar o corpo, mas foram reprimidos pelo oficiais. “Quem não quer ser baleado tem que sair com uma bíblia na mão”, teria dito um dos PMs. O governador Wilson Witzel disse uma frase parecida durante entrevista no ano passado.
O advogado Joe Luiz, da Comissão de Direitos Humanos da OAB do Rio de Janeiro, informou que a vítima trata-se de João Vitor da Rocha, 18 anos. Ele ainda publicou um vídeo de dois voluntários revoltados com o ocorrido.
Assista:
Na segunda-feira, moradores do Salgueiro, em São Gonçalo, denunciaram o sumiço do adolescente João Pedro após ser baleado durante ação policial. Após doze horas de buscas, ele foi achado morto pelos familiares no IML da Lagoa, no Rio.
Na última sexta-feira (20), uma outra operação do Bope deixou mortos no Rio de Janeiro. Na ocasião, ao menos cinco pessoas morreram no Complexo do Alemão após disparos. A Anistia Internacional no Brasil criticou a operação: “Dentro e fora do contexto de pandemia, exigimos das autoridades uma segurança pública que respeite os direitos humanos no policiamento e ação de agentes de segurança pública em geral, respeitando protocolos de uso da força”.