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Enquanto o presidente Jair Bolsonaro afirma que "o Exército não matou ninguém" e que o fuzilamento do carro de uma família negra no Rio de Janeiro por militares foi um "incidente", familiares de Evaldo Rosa dos Santos, que morreu em meio aos 80 tiros disparados pelos militares, seguem chorando sua morte e se perguntando o motivo pelo qual foram alvo de tamanha brutalidade.
Não é só a família de Evaldo que chora. Movimentos, entidades e associações do movimento negro, além do luto, carregam indignação contra mais um episódio que expõe o genocídio sistemático que o Estado promove, através de seus agentes militares e policiais, contra a população negra e pobre.
Para prestar solidariedade aos familiares de Evaldo e homenagear todos aqueles que padecem todos os dias por serem negros ou negras, além de declarar repúdio contra a ação das polícias e do Exército e denunciar o caráter violento do governo de Jair Bolsonaro, será realizado neste domingo (14), na avenida Paulista, em São Paulo, o ato "80 tiros em uma família negra! 80 tiros em nós".
Douglas Belchior, ativista, professor e fundador da UNEafro, uma das entidades que convocam o ato, diz que é preciso reagir a este tipo de atrocidade. "São absurdos e tragédias todos os dias. É difícil conseguir fôlego para reagir a todas as atrocidades que vêm sendo promovidas por esse governo e pelas policias cotidianamente. A simples presença da ação ostensiva do Exército nas ruas é, por si só, inconstitucional, uma demonstração do próprio tempo que estamos vivendo, de fascismo transbordante. Diante disso a gente não pode deixar de reagir, não pode deixar com que o excesso de atrocidades que estamos sofrendo nos impeça de manifestar e promover uma ação específica com relação a esse acontecimento", disse em entrevista à Fórum.
De acordo com Belchior, uma das lideranças mais ativas do movimento negro, é preciso estar ciente de que os agentes do Estado "não agem por si só" e que há "um clima de orientação e até ordem para matar" que vem diretamente daqueles que hoje ocupam o poder no Brasil.
"Existe um clima de permissão, orientação e ordem para que as Forças Armadas atuem de maneira a proporcionar esse resultado que vimos. Não podemos permitir e achar que isso é uma coisa natural. É a tarefa do nosso tempo histórico se organizar contra o genocídio, contra a violência de Estado e contra esse governo fascista que dirige o nosso país", afirmou, lembrando que o presidente da República já chegou a afirmar que policial tem que ter "carta branca" para matar e que "policial que não atira não é policial".
Segundo Belchior, é preciso que Bolsonaro, assim como o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que em seu pacote anticrime dá autorização legal para os agentes do Estado matarem sem serem punidos - ainda que isso seja, apesar de ilegal, uma prática cotidiana - sejam responsabilizados. O ativista lembrou, inclusive, que o ex-juiz de Curitiba tem isentado policiais que matam inocentes com o argumento de terem agido "sob violenta emoção".
"Como não responsabilizar um homem que ocupa o cargo de ministro da Justiça, um espaço de poder tão importante, que propõe uma coisa dessas? E também o próprio presidente da República? São assassinos. Eles que mataram Evaldo e são eles que ordenam a morte de centenas de milhares de pessoas no Brasil todos os anos", disparou.
"Precisamos manifestar nosso repúdio a essa atrocidade na mesma medida que a gente defende políticas de garantia de direitos, que é o que, de verdade, resolve problemas e conflitos sociais, e manifestar também nossa solidariedade à família, aos sobreviventes desse massacre e aos familiares daqueles que são mortos todos os dias nas ações truculentas da polícia, Exército e das milicias, que em maioria são policiais", completou Douglas.
O ato no domingo contra o genocídio da população negra e em homenagem a Evaldo e outras vítimas do Estado será a partir das 14h em frente ao Masp. Saiba mais aqui.