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Por Benedita da Silva*
O dia 8 de Março é celebrado como o Dia Internacional das Mulheres. Mas será apenas o dia em que os homens se sentem obrigados a dar flores às mulheres, como muitos pensam? Podem até continuar dando flores, mas não por elas serem supostamente o “sexo frágil”, e sim por admiração e respeito pela sua luta por direitos iguais aos dos homens.
O 8 de Março também não é simplesmente o dia de luta das mulheres, mas o dia em que as mulheres mostram para toda a sociedade pelo que lutam e por que querem se libertar da supremacia masculina imposta a elas pela tradição milenar do patriarcado.
São muitos os motivos de nossa luta, mas o fundamental é entender que o conjunto dos trabalhadores só vai se libertar da opressão do capital se junto as mulheres se libertarem da opressão machista e também do racismo, que atinge com mais força as mulheres negras.
A discriminação da mulher começa na família e na escola, se prolonga no mercado de trabalho e na sociedade se expressa na violência contra as mulheres, na desigualdade de direitos com os homens e no racismo.
Segundo a pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1,6 milhão de mulheres relataram terem sido espancadas no ano passado – 185 a cada dia. Segundo o Instituto Geledés, mais de 60% das vítimas de feminicídio são mulheres negras. No mercado de trabalho as mulheres brancas recebem cerca de 70% do salário do homem branco, e as mulheres negas, 40%.
A discriminação da mulher negra é tão forte que, às vezes, o feminismo negro precisa lutar muito para se tornar visível e denunciar como somos esmagadas pelo triplo preconceito: racial, de gênero e de classe social. A categoria profissional que mais emprega mulheres é a do emprego doméstico, e nele 61,7% são negras. O regime de trabalho doméstico é equivalente ao trabalho escravo e ainda se acrescenta a dupla jornada de trabalho para cuidar de seus filhos e de sua casa. Somente em 2013 é que os direitos trabalhistas dos trabalhadores domésticos foram equiparados aos dos demais trabalhadores.
No entanto, três anos depois, o golpe do impeachment contra a presidenta Dilma anulou essa conquista histórica.
Uma das faces mais visíveis da discriminação da mulher no Brasil é a sua pequena representação política. O poder branco e masculino faz de tudo para desestimular, dificultar e até mesmo impedir a entrada da mulher num espaço que ele considera historicamente seu. Registrando uma média de 10% na Câmara, somente no ano passado é que essa participação das mulheres subiu para 15%. Parte desse aumento se deve à reação das mulheres conscientes contra a misoginia, o machismo e o feminicídio, pautas que se tornaram bandeiras nas eleições de 2018.
A extrema polarização política da sociedade, alimentada artificialmente pela grande mídia e pelas fake news bolsonaristas, não conseguiu anular completamente da memória popular a lembrança de como se vivia no governo Lula. A geração de emprego, a inclusão social, o acesso à moradia e a política de cotas raciais na universidade permitiram uma significativa ascensão do poder feminino, em especial das estudantes e trabalhadoras negras. Foi esse poder social que se manifestou no protagonismo das mulheres brancas e negras contra o golpe do impeachment, no “Ele Não” e no voto em Haddad no segundo turno. É esse mesmo protagonismo feminino que começa a se mobilizar contra essa famigerada Reforma da Previdência de Bolsonaro, em que as mulheres são as mais prejudicadas, particularmente as professoras e as trabalhadoras do campo.
Portanto, o 8 de Março é o dia em que a mulher mostra para a sociedade a força de seu protagonismo e a legitimidade de sua luta. Com isso desmonta a invenção machista do “sexo frágil”, feita apenas para nos dominar e prova que a luta de classe dos trabalhadores não pode estar separada das lutas contra o racismo e pelos direitos das mulheres.
*Benedita da Silva é deputada federal (PT/RJ)
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