Dilma Rousseff dispara contra Damares e a revisão da Anistia: "Tentativa hipócrita"

Em contundente nota divulgada nas redes sociais, a ex-presidenta critica as intenções de Damares Alves de revisar as indenizações que a Comissão da Anistia concede à vítimas da ditadura militar; Dilma foi presa e torturada

Dilma Rousseff interrogada por militares à época da ditadura (Reprodução/pt.org)Créditos: Arquivo
Escrito en DIREITOS el
A ex-presidente Dilma Rousseff divulgou no início da noite desta quinta-feira (28) uma nota em que sobe o tom contra a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, por suas intenções de revisar as indenizações concedidas pela Comissão da Anistia à vítimas da ditadura militar e de mudar sua composição. Nesta quarta-feira (27), Damares indicou novos integrantes para a comissão e, um deles, é um general que duvidou da tortura sofrida pela ex-presidenta. "Trata-se de uma tentativa hipócrita, mas simplória, de dourar a pílula da arbitrariedade do governo Bolsonaro. Como para eles não houve golpe nem ditadura militar a partir de 1964, não reconhecem, consequentemente, fundamento histórico, sentido civilizatório e dever moral e democrático na atuação legal da Comissão de Anistia. Daí ser mera consequência negar o direito às legítimas reparações que são devidas às vítimas atingidas pelo braço repressivo do terrorismo de Estado", diz Dilma. Na nota, a ex-presidenta ainda informou que doou as indenizações que já recebeu ao movimento 'Tortura Nunca Mais'. "Ao assim proceder, perde todas as condições morais, éticas e políticas de julgar idoneamente pedidos de reparação de quem foi vítima da ação ditatorial praticada pela ditadura", complementa Dilma. Confira, abaixo, a íntegra da nota. Arbítrio oculto por biombos É inesgotável a capacidade da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de chocar o país com posições míopes e reacionárias. Notória por ações bizarras, que seriam cômicas se não fossem trágicas, a ministra decide agora mudar a composição da Comissão da Anistia. Trata-se de uma tentativa hipócrita, mas simplória, de dourar a pílula da arbitrariedade do governo Bolsonaro. Como para eles não houve golpe nem ditadura militar a partir de 1964, não reconhecem, consequentemente, fundamento histórico, sentido civilizatório e dever moral e democrático na atuação legal da Comissão de Anistia. Daí ser mera consequência negar o direito às legítimas reparações que são devidas às vítimas atingidas pelo braço repressivo do terrorismo de Estado. A pose de moralista da ministra e do governo não passa de um mal ajambrado biombo, cujo objetivo é ocultar sua adesão ao autoritarismo e ao desrespeito aos direitos humanos, que feriram o País por mais de 20 anos. A negativa quanto ao direito de indenização e a ridícula ameaça de uma auditoria são apenas mais um ato de quem renega a memória, a verdade e a história do Brasil. Ao assim proceder, perde todas as condições morais, éticas e políticas de julgar idoneamente pedidos de reparação de quem foi vítima da ação ditatorial praticada pela ditadura. Pedi reparação da União por ter sido presa e torturada pela ditadura. Suspendi a ação quando era presidenta, por razões éticas, e a reapresentei ao ser destituída por um golpe. Não abro mão desta luta. O que é meu por direito não pode ser negado pela história e pela Justiça. As indenizações por abusos cometidos contra mim em dependências de órgãos policiais estaduais eu as doei ao movimento 'Tortura Nunca Mais'. A ministra finge ignorar que a Comissão da Anistia da União, por ser posterior àquelas dos Estados, ao conceder reparação deduziu as indenizações já pagas. Aceitar a existência de atos violentos e arbitrários a serem reparados significa confessar que o Brasil viveu sob uma ditadura, confessar que o regime exilou, prendeu, torturou e matou milhares de pessoas. Mais do que nunca, devemos continuar lutando para que não se repitam ditaduras, abertas ou ocultas por biombos.
Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar