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A líder indígena Sônia Guajajara defendeu nesta quinta-feira (31) a investigação de denúncia da revista Época envolvendo a ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, que teria levado Lulu Kamayurá de uma aldeia do Xingu sem autorização da família para a adoção.
“Vamos apoiar investigação, pois ela não tem nenhum tipo de documento dessa adoção”, afirmou Sônia. Ela disse, ainda, que trata-se de um mero pretexto a questão do infanticídio indígena alegada pela Organização Não Governamental (ONG) Atini, fundada por Damares Alves. Damares se afastou da ONG em 2015, mas Lulu, hoje com 20 anos, trabalha lá.
“Isso [infanticídio] não existe. O povo pega alguns povos isolados e generaliza, como se fosse a cultura. É uma desculpa para ela mesma [Damares], para as amigas dela, para justificar essa adoção ilegal. Claro que são 305 povos, eu não posso falar por todos”, declarou Sônia Guajajara.
Segundo matéria da Folha de São Paulo, a Polícia Federal pediu, em 2016, informações à Fundação Nacional do Índio (Funai) sobre a Atini e outras duas ONGs. A Fórum entrou em contato com a PF para saber se houve prosseguimento dessas diligências. Questionou, ainda, se a denúncia da Época sobre Lulu Kamayurá seria alvo de investigação. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno.
Janeiro Vermelho
A líder indígena deu as declarações durante um ato em frente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para marcar o encerramento do “Janeiro Vermelho”, uma série de ações promovidas este mês pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) com o tema “Sangue Indígena – Nenhuma Gota a Mais”. As manifestações são contrárias às ameaças aos direitos indígenas por parte do governo de Jair Bolsonaro, que prometeu não demarcar “nem mais um centímetro” de terra indígena.
[caption id="attachment_165648" align="alignleft" width="300"] Foto: Mariana Branco[/caption]
Sônia Guajajara, a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR) e outras lideranças entoaram cantos, gritos de guerra e protestaram contra a transferência das demarcações de terras para o Ministério da Agricultura. Eles também defenderam que a Fundação Nacional do Índio (Funai) volte para o Ministério da Justiça. O governo Jair Bolsonaro colocou a Funai sob o guarda-chuva do ministério de Damares Alves.
“Nesse momento, já são mais de 60 atos em todo o Brasil, bem como atos em nove países. O ‘Janeiro Vermelho’ representa o sangue indígena, mas também está representando o urucum, nossa resistência. A causa indígena não é somente dos povos indígenas. As reservas indígenas são bens comuns, que aumentam a preservação e o equilíbrio”, afirmou Sônia.
Joênia Wapichana, a primeira mulher indígena deputada federal, disse que atuará no Congresso para avançar com os direitos indígenas e evitar retrocessos. “Vamos ter que fazer tudo ao mesmo tempo. Tanto defender os direitos já conquistados, como avançar.”