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Por Gabriel Valery, na RBA
“Em 1964, o Executivo assaltou e neutralizou o Legislativo e o Judiciário. Hoje, temos o Judiciário controlando os outros dois poderes. É uma ditadura, sem dúvida. Uma ditadura sem centralidade.” As palavras são do ativista Ivan Seixas, preso pela ditadura civil-militar (1946-1985) no dia 16 de abril de 1971, quando tinha 16 anos. Torturado junto com toda sua família, recorda com pesar a morte de seu pai durante uma sessão de tortura. Agora, aos 63 anos, Seixas vê novamente, em suas palavras, o “Estado de exceção” no Brasil.
Seixas esteve nesta sexta-feira (20) em São Paulo, para dar início a uma campanha de solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde o dia 7 de abril na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O ativista participou de uma conversa com a atriz Débora Duboc, que participa do Comitê do Teatro e Ativista pela Democracia e Lula nas Eleições, além da vereadora Juliana Cardoso (PT-SP) e do militante e ex-deputado estadual Adriano Diogo.
Para o ativista, Lula é um preso político de uma ditadura, assim como ele foi. Durante os anos de cárcere, Seixas foi “adotado” pela Anistia Internacional, que enviou uma grande quantidade de cartas para ele. Agora, a intenção é promover uma ação de solidariedade similar com Lula. “Nossa ideia é fazer uma ponte. Como as cartas ajudaram a salvar minha vida na ditadura que matava, é importante dar uma força ao preso político que é o Lula.”
Além da característica da intimidação de dois poderes da República diante de um mais forte em determinado momento histórico, Seixas vê paralelos entre diferentes períodos do país. “Nós que lutamos por memória, verdade e justiça, vemos que a direita tem o mesmo discurso há décadas. Eles tentaram derrubar o Getúlio Vargas usando o discurso de corrupção, economia indo para o buraco e perigo comunista. Levaram ele ao suicídio. Juscelino Kubitschek, fazem a mesma coisa. Tentam dar um golpe. Depois, contra João Goulart, fazem isso e dão o golpe para implantar uma ditadura”, afirma.
Então, para enfrentar as arbitrariedades de um período de exceção, Seixas sugere alcançar apoio internacional, como foi feito pela Anistia em seu período de cárcere. “As campanhas como a das cartas para mim foram tão importantes que o Garrastazu Médici (1969-1974) foi à França em 1972 e não conseguiu sair do hotel. Tiveram manifestações na frente (…). Agora, não é uma questão de defender Lula como pessoa e sim o princípio de que você não pode condenar alguém sem existir um crime. O tríplex não é do Lula, não existe indicação nem provas. É uma farsa, uma perseguição. Um exemplo disso é a figura execrável da Rosa Weber (ministra do Supremo que votou contra a concessão do habeas corpus ao ex-presidente): disse que era contra a prisão em segunda instância, mas que no caso de Lula era a favor.”
Seixas está aliado com lideranças do movimento político e outros ativistas para consolidar uma campanha de cartas não apenas direcionadas ao ex-presidente, mas também às figuras do poder que participam da manutenção da prisão de Lula, algo que também aconteceu em sua prisão. “Um dia fui chamado na diretoria do presídio. O diretor era um integralista fascista, e pediu para eu ler e assinar um papel amassado. Ele estava com ódio. Então eu entendi o porquê. Era uma carta de uma norte-americana que chamava ele de monstro, questionava por que ele fazia isso comigo, esculachava o cara. Ele ficou bravo e amassou a carta, mas mandou eu assinar para servir de depoimento contra mim, no meu prontuário. Eu ri na cara dele. Ele gritou, me expulsou e eu saí feliz da vida. A carta era pra ele, veja como foi importante isso.”
Débora concorda com a importância de ações como tal. Ela coordena uma ação que leva pessoas às ruas para pegar depoimentos de pessoas, colocar em cartas e enviar ao ex-presidente. “É importante furar a bolha internacional. O sentimento que temos é que na ditadura militar o Brasil ficou lacrado. Sentimos que isso está acontecendo agora também no país. Atualmente estamos lacrados. Barbaridades acontecem e não existe como reclamar disso. Estive em Portugal e conversei com alguns artistas sobre o Brasil e eles disseram estar perplexos diante da possibilidade de não poder recorrer à Justiça. É isso, não temos a quem recorrer.”
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