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Matéria do Estadão apontou suposta ligação do magistrado Luís Carlos Valois, que ajudou nas negociações no massacre em Manaus, com a facção Família do Norte (FDN). Valois diz ter concedido 20 minutos de entrevista ao jornal e não publicaram nada do que ele falou. Leia matéria do Justificando, que reuniu depoimentos de juristas em defesa do juiz
Por Justificando Ontem, 2, a rebelião sangrenta no presídio em Manaus que terminou com a morte de 56 presos teve mais um capítulo que preocupou juristas e ativistas ligados aos direitos humanos. Isso porque o Blog do Fausto Macedo, do jornal Estadão, veiculou uma matéria que indicava a “ligação” do magistrado Luís Carlos Valois, que participou das negociações pelo fim da rebelião, com a facção “Família do Norte” (FDN), responsável pelas mortes. Agora, o magistrado – que foi ouvido por 20 minutos e não teve uma frase sequer publicada – está sofrendo ameaças da facção rival, o PCC (Primeiro Comando da Capital). A notícia requenta uma acusação sofrida pelo magistrado em junho do último ano, quando ele foi alvo da operação “La Muralla”, que investigou a influência da facção FDN. Valois foi citado em uma conversa entre cliente e advogado sobre um suposto afastamento dele da Vara de Execuções Penais de Manaus, cuja principal delegação é analisar os pedidos de progressão de pena, saídas temporárias e demais questões de encarcerados e encarceradas. Na ligação, o preso faz um apelo para que Valois fosse mantido, pois, caso contrário, a vida deles ficaria muito mais difícil. Ao requentar a notícia, os jornalistas ligaram para o magistrado, o qual disse que a ligação não trazia qualquer prova de conduta dele; que só foi ao presídio por um pedido pessoal do Secretário de Segurança Pública, mas por conta da matéria estava agora sob ameaças do PCC. A jornalista do The Intercept Cecília Oliveira resumiu em suas redes sociais a falha jornalística do Estadão, que acabou colocando a vida do magistrado em risco – “Os repórteres do Estadão ligaram para o Luís Carlos Valois, falaram com ele 20 min, mas escolheram não publicar UMA PALAVRA do que ele disse, isso, numa ‘matéria’ que o acusa de ter envolvimento com a Família do Norte. O excelente resultado disso é que agora ele está sendo ameaçado pelo PCC. Parabéns Estadão”, ironizou. Juiz de Direito é admirado no meio jurídico e recebeu inúmeras mensagens de apoio O juiz amazonense é reconhecido no meio jurídico como uma das mais importantes vozes contra a guerra às drogas e dedicou sua vida acadêmica sobre o assunto – no último ano, inclusive, concluiu sua tese de Doutorado sobre o tema na Universidade de São Paulo (USP). Além disso, Valois tem o reconhecimento jurídico e popular por sua atuação humanizada junto aos presos e sua família, ao ouvir a todos e todas com respeito e cordialidade. “Luís Carlos Valois honra a toga que veste. Coragem, destemor, conhecimento, compaixão são algumas das inúmeras qualidades deste grande homem, que podemos chamar sem nenhum medo de Excelência. Na boa, a maioria das autoridades jurídicas do nosso país não conseguem honrar o próprio nome que carregam” – afirmou o Delegado de Polícia e Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense, Orlando Zaccone. “Luís Carlos Valois é um dos poucos juízes brasileiros que tem autoridade moral para negociar com presos, justamente por que enxerga neles o ‘humano’ que todos deveriam ver. Paga um preço elevado por isso” – afirmou o Promotor de Justiça e Professor da Universidade Federal da Bahia, Elmir Duclerc. Já o Juiz de Direito em São Paulo e Colunista do Justificando, Marcelo Semer, afirma que o maior risco da profissão não está nos presos, mas sim em uma imprensa sensacionalista – É preciso ter coragem pra ser juiz. E infelizmente o maior risco hoje não está nos presos. Está na imprensa leviana e sensacionalista”.