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Uma denúncia anônima acusou uma professora de filosofia de estar "aparelhando" a universidade com ideais "de esquerda".
Por Igor Fuser, em seu Facebook
Na contramão de todas as evidências, ainda existe muita gente que, honestamente, considera um exagero denunciar a existência de uma escalada autoritária ou fascista no Brasil do pós-golpe.
A nota aqui reproduzida é apenas um exemplo – um, entre centenas de casos, muitos deles bem mais graves – do ambiente repressivo que, pouco a pouco, sorrateiramente, vai se instalando em todas as esferas da vida brasileira.
Trata-se da manifestação da corregedoria da Universidade Federal do ABC, com data de 31/10/2016, rejeitando (felizmente!) uma delação anônima contra uma professora do curso de Filosofia, denunciada por ministrar um curso intitulado “Pensamento marxista e seus desdobramentos contemporâneos”.
É inacreditável! Se Karl Marx é considerado, por absoluto consenso entre os estudiosos desse campo do conhecimento, um dos filósofos mais importantes de todos os tempos, como é que alguém pode se formar em Filosofia sem conhecer o marxismo?
A denúncia contra essa docente, acusada de ter ideias de esquerda (como se isso fosse uma "acusação" a ser levada a sério!), traz à lembrança os tempos sombrios da “caça às bruxas” nos Estados Unidos do macartismo – o fascismo à moda gringa, que entrou para a história como símbolo da intolerância, do preconceito e da (pura e simples) burrice.
O macartismo (em inglês, McCarthysm) foi uma patologia política típica da Guerra Fria. Seu auge ocorreu no período de 1950 a 1957. De acordo com a wikipedia, esse “é um termo que se refere à prática de acusar alguém de subversão ou traição sem respeito pelas evidências”. Origina-se da campanha anticomunista promovida pelo senador Joseph McCarthy, do Partido Republicano, quando milhares de cidadãos dos EUA foram acusados, sem mais nem menos, de serem comunistas ou até mesmo espiões a serviço da União Soviética.
Por conta do macartismo, muitas pessoas, conforme relata o Wikipedia, perderam seus empregos ou tiveram suas carreiras destruídas, e muitas foram presas. A maioria das punições foram baseadas em julgamentos que, mais tarde, foram anulados – como certamente serão anuladas, no futuro, todas ou quase todas as sentenças arbitrárias do “juiz” Sérgio Moro na Operação Lava-Jato.
O senador McCarthy e seus capitães-do-mato, assim como o verdadeiro circo que caracterizava as audiências da “caça às bruxas”, se tornaram objeto de um ridículo que se reproduz pelas gerações. Mas o sofrimento das vítimas do macartismo foi concreto, assim como os efeitos nefastos para a prática da democracia.
Não podemos deixar que, seis décadas depois, essa página infeliz da história da humanidade se repita aqui no Brasil.