"É assustador e inadmissível", diz ministra sobre morte de jovem registrada em vídeo

Para Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos, é preciso debater a desmilitarização da polícia; após repercussão de vídeo, nove policiais militares foram afastados, e o comandante do batalhão, exonerado

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Para Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos, é preciso debater a desmilitarização da polícia; após repercussão de vídeo, nove policiais militares foram afastados, e o comandante do batalhão, exonerado Por Anna Beatriz Anjos e Maíra Streit

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, conversou com a Fórum sobre o caso de Alan Souza de Lima, de 15 anos, morto na última sexta–feira (20) por policiais militares na comunidade carioca da Palmeirinha. O episódio ganhou repercussão depois que circulou pelas redes um vídeo, captado pelo celular do jovem, no qual grava a sua própria morte.

"É uma situação estúpida e inadmissível, mascarada como auto de resistência", afirma Salvatti. "Assisti ao vídeo e é assustador. É preciso uma apuração imediata e acompanhamento da sociedade civil do processo investigativo, além da retirada imediata dos policiais de atuação. Essa questão tem que ser enfrentada, também com o debate da desmilitarização da polícia."

Para a ministra, o fato acende ainda mais o debate sobre a militarização da segurança pública no Brasil. "O que a gente percebe, de forma inequívoca, é que o comportamento militar ainda está presente de forma muito ostensiva na atuação do nosso sistema policial. É de fundamental importância para as próprias forças de segurança que a gente possa evoluir, com mecanismos de inteligência que evitem situações de alto risco e que não sejam pura e simplesmente o enfrentamento cara a cara, bala a bala", defende.

Afastamento e exoneração Após a repercussão do vídeo que registra a morte de Alan Souza de Lima, nove policiais do 9º BPM (Rocha Miranda), responsável pela área onde o fato aconteceu, foram afastados pelo comandante do batalhão, tenente-coronel Luiz Garcia Baptista. Logo em seguida, este último também foi exonerado do cargo.  Embora as imagens gravadas pelo celular de Alan deixem claro que ele e seus amigos não estavam armados, os policiais que o alvejaram registraram o caso como auto de resistência. Apresentaram, ainda, uma pistola e um revólver, que teriam sido apreendidos com os rapazes. Por isso, os PMs responderão por fraude processual e serão acusados de homicídio e tentativa de homicídio. Na ocasião em que Alan foi morto, o jovem Chauan Jambre Cesário, de 19 anos, foi baleado no peito e detido pelos agentes. Ele chegou a ter a prisão preventiva decretada pela Justiça, mas seu advogado – contratado pela igreja que frequenta, em Nova Iguaçu –, entrou com pedido de relaxamento da prisão, acolhido pelo juiz de plantão. Chauan foi colocado em liberdade apenas na segunda-feira (23). Entenda o caso Na noite de sexta-feira (20), faltava luz na comunidade Palmeirinha e um grupo de amigos conversava e contava piadas sentado em bicicletas. Alan Souza de Lima gravava tudo em seu celular. De repente, inicia-se uma correria e ouve-se uma sequência de disparos. Logo em seguida, Alan cai ao chão, baleado duas vezes no abdômen, e morre ainda ali. Ao seu lado, Chauan Jambre também está caído, atingido no peito por um disparo. Não é possível vê-lo, apenas escutá-lo rezando para não morrer.

O vídeo não capta, mas, de acordo com testemunhas, havia um policial ao lado dos meninos. “Cidadão, eles entraram no meio da troca de tiros aqui com a gente”, justificam os agentes.

Embora tenha implorado por ajuda, Chauan só foi socorrido pelos policiais muito tempo depois, quando seus amigos e familiares chegaram ao local e conversaram com os PMs. Ele passa bem e aguarda nova cirurgia para retirada do projétil, que continua alojado em seu peito.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)