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Intitulada de "Apoiamos Patrícia Moreira contra a hipocrisia do Politicamente Correto", a página no Facebook foi criada no início de setembro e contesta que exista racismo na atitude da auxiliar de odontologia flagrada chamando o goleiro do Santos de "macaco"
Por Redação
Uma página no Facebook tem causado indignação entre ativistas do movimento negro que se mobilizam em prol do goleiro Aranha: intitulada de "Apoiamos Patrícia Moreira contra a hipocrisia do Politicamente Correto", a página foi criada no início de setembro e contesta que exista racismo na atitude da auxiliar de odontologia, que foi flagrada chamando o jogador de "macaco".
Para justificar o raciocínio, a página recorre a personalidades negras famosas, como por exemplo Alexandre Pires, utilizando casos como o vídeo em que o cantor usa uma fantasia de macaco e declara ser "King Kong". A polêmica aconteceu ainda no ano de 2012 e contou com protestos do movimento negro, que denunciou o clipe como racista.
Para ativistas negras, a página que defende Patrícia Moreira é claramente racista e distorce fatos para permanecer impune. Um exemplo disso seria a utilização de ameaças feitas contra Patrícia como forma de invalidar a mobilização. Luara Vieira, professora de sociologia e feminista negra, afirma que é possível cobrar punição sem ter atitudes machistas e violentas contra a torcedora gremista. "Não acho possível apoiá-la pensando a partir de uma isenção da atitude da mesma, ela cometeu um crime e deve ser punida por isso, não esqueceremos as frases racistas ditas a um dos nossos; porém, não se acaba com racismo cometendo ou estimulando atitudes e ataques misóginos, como ameaças de estupro, por exemplo".
O racismo neste caso também não está somente no discurso que absolve Patrícia Moreira, uma vez que a página ainda prega o fim da miscigenação entre pessoas de diferentes etnias e defende o orgulho branco como posicionamento que deve ser legal e livre. Chegou a ser publicada na página uma imagem expondo homens negros (ao lado) como Pelé, Robinho e Neymar ao lado de mulheres loiras e brancas com as quais mantiveram relacionamentos amorosos.
Luara Vieira chama atenção para o fato de que em nenhum momento se discute a discriminação contra a mulher negra - apenas se utiliza dos argumentos como forma de atacar pessoas negras em uma tentativa de invalidar o racismo brasileiro. "Creio que a página tentou sugerir com essa publicação uma concessão a atos racistas a partir do envolvimento entre negros e brancos, o que é inadmissível. Esses relacionamentos merecem problematizações, mas a existência deles não confere uma isenção de racismo por parte de brancos envolvidos. Para a surpresa de Patrícia Moreira e de muitos outros, ter amigos negros não faz ninguém menos racista, ao contrário, justificar atitudes como as dela usando argumentos como esse só demonstra o quanto ainda precisamos lutar", afirma Vieira.
Sob essa ótica, os argumentos utilizados pela página acabam por evidenciar motivações discriminatórias e de má fé, pois tenta desestabilizar o movimento, colocando pessoas negras contra elas mesmas. Apesar disso, as mobilizações reivindicando a punição da torcedora seguem ativas e visam também fortalecer Aranha, que é aclamado por homens e mulheres negras como ícone na luta contra o racismo brasileiro.