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Os pedidos de uma mulher durante o parto foram tidos como “surto” pelo obstetra responsável, Iaperi Araújo
Por Redação
O médico Iaperi Araújo deixou de praticar a obstetrícia após presenciar o que ele chamou de “surto”: uma paciente que quis ditar as regras de seu próprio parto. Após o ex-obstetra relatar o caso em seu Facebook, a mídia retratou a mulher de maneira ridicularizada, como uma “comedora de placenta”.
O caso aconteceu em Natal, no dia 2 de julho. O G1 noticiou apenas a versão do médico, sem ouvir a mulher. Sendo assim, Araújo foi tido como vítima de uma “surtada”, que o agrediu verbalmente, tirou seu filho do berçário e comeu a sua placenta.
Entretanto, a mãe escreveu sua versão dias depois. O blog Cientista que virou mãe divulgou o relato de mais uma paciente que sofreu violência obstétrica. Após não poder ter seu parto da forma desejada, ela ainda passa por um período de humilhação e ridicularização.
Leia trechos da versão da paciente:
“Quando subi para o atendimento, ouvi um velho grosseiro me gritando: ‘Por que não fez pré-natal?’. Eu respondi: ‘Primeiro, eu fiz pré-natal, mas não trouxe nada comigo, e segundo, o senhor não precisa falar assim comigo, viu’.
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Foi então quando o doutor resolveu me examinar. Essa violência foi um pouco mais dolorosa. Ele fez um toque, rompeu minha membrana, gritei de dor.
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Pedi para ficar nua, e me foi dito que eu não poderia ficar nua, pois naquele hospital eu deveria seguir os protocolos. Consegui ficar apenas com a bata cobrindo-me os peitos. Aceitei a analgesia. Não sabia eu que ali estava o ápice da dominação do meu ser, pois sem sentir as pernas eu não poderia me defender, sair andando, correndo.
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O anestesista me disse para sentar com os ombros curvados, pedi então que ele aproveitasse entre uma contração e outra, pois eu não conseguiria ficar parada naquela posição durante uma contração. Eu pedia para ele ir logo, mas ele estava muito ocupado falando ao celular.
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A orientação era essa: quando você achar que não vai aguentar e vai vomitar, pare. O anestesista pressionava meu estômago com seu polegar, era fatal. Vomitei não sei nem quantas vezes, após cada contração, após ter meu estômago pressionado repetidamente.
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Vi gente entrando e deixando bolsa pessoal na sala de parto, com celular tocando, vi gente entrando com walk-talking ligado. [...] A pediatra, Lívia, disse que aquele parto era uma loucura, que eu era louca, e que tinha que ter aquela equipe toda lá dentro, disse que eu não era ninguém para discutir a necessidade ou não de todas aquelas pessoas ali.
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Ele dizia: se você quisesse um parto sem dor faria uma cesárea, quer? Você não quer uma cesárea, ta vendo? Ta reclamando de que?
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Levaram meu filho de mim injustificadamente e manifestamente contra minha vontade para o berçário para lavá-lo com sabão, tirar o vernix protetivo e embrulha-lo com fraldas descartáveis e aquecê-lo artificialmente, desdenhando de meu clamor para tê-lo em meus braços.
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Infelizmente não comi minha placenta, ainda, pois ainda não tive coragem para encará-la, pegar nela, senti-la, tão cheia de mim, da minha cria, e das emoções que vivenciamos durante nove meses, e nos últimos momentos do meu bebê dentro de mim. Infelizmente também não corri nua, precisei perder alguns minutos me vestindo com roupas sujas e ensanguentadas, pois até panos limpos me foram negados.
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E por fim, infelizmente não agredi o obstetra.
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Foram dez dias de repouso e fortalecimento, mesmo com todas as críticas, com todos os comentários atrozes e as reportagens na mídia me deplorando. Fui chamada de louca, psicopata, disseram que deveriam tirar meu filho de mim.”
(Foto de capa: redgular/Pixabay)