O aplicativo Lulu e a reprodução do machismo

Aplicativo permite que mulheres avaliem seus amigos do Facebook; situação inédita estimula o debate masculino sobre a objetificação do ser

Escrito en DIREITOS el
Aplicativo permite que mulheres avaliem seus amigos do Facebook; situação inédita estimula o debate masculino sobre a objetificação do ser Por Isadora Otoni [caption id="attachment_37094" align="alignleft" width="378"] Ao tentar acessar o Lulu, os homens são barrados. Porém, existe a opção de remover o perfil do aplicativo[/caption] Lançado no Brasil no dia 20 de novembro, o aplicativo Lulu gerou uma polêmica em torno da objetificação masculina, problema do qual as mulheres são historicamente vítimas. No aplicativo, os homens são avaliados pelas suas amigas do Facebook com notas e hashtags em quesitos como: aparência, humor, educação, ambição, compromisso, beijo e sexo. As hashtags são padronizadas e divididas entre “melhor” e “pior”, sendo que “#PagaAConta” e “#TrêsPernas” podem ser consideradas o melhor do ser avaliado, e “#LoserFriends” é uma qualidade ruim. Em um primeiro momento, o Lulu foi considerado um instrumento feminista, mas o aprofundamento do debate online mostrou que se tratava de uma reprodução de conceitos machistas, como o cavalheirismo e a própria objetificação. “Obviamente, ele não é um aplicativo feminista. Um dos conceitos principais do feminismo é a ideia da igualdade entre homens e mulheres, não de superioridade e não de reprodução do que os homens fizeram com as mulheres historicamente”, opina Bruna Giorjiani, do Coletivo Ana Montenegro. Algumas análises sobre o aplicativo consideram legítima a oportunidade das mulheres avaliarem os homens. Isso porque se trataria da conquista de um direito igual, do empoderamento feminino e da compensação histórica. Bruna, no entanto, discorda: “Não é igualdade. Porque o conceito não é liberdade para reproduzir as opressões. Opressão nunca é bom. Ser oprimido ou ser opressor nunca é bom”.  A militante também teme a deturpação do sentido do movimento feminista: “Ele é muito perigoso para o senso comum e para o que as pessoas pensam sobre o que é feminismo”, diz. [caption id="attachment_37098" align="alignleft" width="300"] "Ele [aplicativo Lulu] também é bem heteronormativo e homolesbotransfóbico", opina Luka (Reprodução / Facebook)[/caption]Luka Franca, colaboradora do Blogueiras Feministas, aprofunda as críticas: “Achei o aplicativo bobo, na verdade. Parecia uma porta de banheiro do ensino médio. Ele também é bem heteronormativo e homolesbotransfóbico”. Em troca, a notícia de um novo aplicativo surgiu na internet. Trata-se do Tubby, que promete avaliar o desempenho sexual feminino. “Aparecer o Tubby é meramente uma forma de pensar a questão apenas do empoderamento individual, e não pensar o como essa forma de objetificação e mercantilização das pessoas é algo estrutural da nossa sociedade. Isso é a mercantilização das nossas vidas e corpos”, argumenta Luka. Bruna completa: “Agora eles têm a desculpa de nos avaliar, porque nós os avaliamos primeiro. Mas isso é uma questão histórica muito maior”. Mesmo que superficialmente, o aplicativo tem um ponto positivo: estimular o debate masculino sobre um problema predominantemente feminino. Apesar de não ter a pretensão de transformador social e não criticar a violência machista, o sentimento masculino de ser objetificado é inédito. “Realmente, é bom mostrar aos homens o que nós sentimos há séculos. Ainda que seja muito engraçado, por outro lado, tem limite. Se você pensar direito, não é algo a ser incentivado”, diz Bruna.