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De acordo com a Unesco, desaparece uma língua a cada duas semanas no mundo. E os povos indígenas tentam evitar a perda de sua língua e sua história
Por Marzieh Goudarzi, da IPS
A matéria abaixo faz parte da edição 120 de Fórum, compre aqui.
Jovens de diversos povoados indígenas se envolvem em iniciativas para evitar que suas respectivas comunidades sigam pelo caminho do desaparecimento e para coexistirem com outras culturas em um mundo cada vez mais globalizado. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima em 370 milhões o número de indígenas vivendo em comunidades, localizadas em centros urbanos, reservas ou no meio do caminho entre ambos.
Esses povos sofrem os mesmos problemas que outras comunidades carentes de direitos, como pobreza, falta de educação básica, elevado desemprego, altas taxas de criminalidade e falta geral de acesso aos serviços públicos e a recursos. Mas há outros assuntos que são únicos da experiência indígena, como separação forçada de suas terras ancestrais, perda de sua língua e histórias de injustiça, exclusão social e violência que levaram à sua marginalização.
Em 2000, foi criado o Fórum Permanente para as Questões Indígenas, no qual um comitê de especialistas, designados por governos e organizações indígenas da sociedade civil, discute os assuntos fundamentais e recomenda ações ao sistema das Nações Unidas. Neste ano, o Fórum destaca o papel dos jovens indígenas como líderes comunitários, e já houve em janeiro um encontro entre representantes de sete regiões para compartilhar sua visão com membros desse órgão e de organizações relacionadas.
[caption id="attachment_33696" align="alignleft" width="300"] (Marcello Casal Jr. / ABr)[/caption]
Os sete jovens compartilharam sua preocupação com o rápido desaparecimento das línguas indígenas, vitais para a unidade cultural. O Fundo das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) estima que no mundo desaparece uma língua a cada duas semanas. Os sistemas educacionais têm um papel histórico no desaparecimento das línguas indígenas, às vezes forçando sua extinção por meio de castigos e humilhações severos contra meninos e meninas por falarem sua língua-mãe ou por expressar de alguma forma sua identidade étnica.
Na tribo anishinaabe onde mora Andrea Landry, no Canadá, só resta uma anciã que fala fluentemente sua língua ancestral. Aos 80 anos, ainda não superou a vergonha por falar seu idioma, que lhe foi inculcada quando menina, o que tornou mais complicado compartilhá-la com as gerações mais jovens. Landry, representante da América do Norte, concordou com muitos de seus companheiros no encontro quanto à responsabilidade do Estado em ter oferecido uma educação bilíngue nas escolas onde havia crianças indígenas, mas que a quantidade de línguas dificultou a implantação da medida.
Implantar programas no âmbito comunitário por meio de organizações da sociedade civil seria uma boa alternativa, sugeriram os jovens. Também se mostraram todos preocupados com a falta de consciência e a tergiversação de sua história, cultura e situação atual. Todos concordaram que os sistemas educacionais deveriam ensinar sua história e a diversidade social com mais cuidado e exatidão.
Landry contou à IPS que, quando fazia seu mestrado em Comunicação e Justiça Social, ficou surpresa com a falta de material sobre questões indígenas. Tentou preencher as falhas com material complementar, mas argumentou: “Não sou eu quem tem de ensinar essas coisas.” Steven Brown, representante das nações tribais Bundjalung e Yuin, na Austrália, expôs sua preocupação com os estereótipos negativos que são difundidos em lugar de uma compreensão real dos povos indígenas.
Em algumas comunidades, onde muitas pessoas só falam sua língua ancestral, ocorrem outros problemas: acesso à informação importante sobre cuidados com a saúde, oportunidades de emprego, direitos legais e serviços públicos. O representante da tribo de caçadores-coletores batwa, em Uganda, Niwamanya Rodgers Matuna, deu um exemplo à IPS sobre como a falta de informação sobre os medicamentos e seu uso adequado na língua materna de seu povo fez seus membros não confiarem em remédios que não fossem os seus tradicionais.
O uso inadequado e a má qualidade dos antibióticos fizeram com que as doenças desenvolvessem resistência, fenômeno que se tornou problemático em países pobres, mas que pode ser combatido com a melhoria do acesso à informação dos destinatários dos medicamentos. A representante da Ásia, Meenakshi Munda, da comunidade munda, na Índia, disse que não quer que seu povo se torne dependente da ajuda estatal nem da internacional.
Os indígenas, e em especial os mais jovens, sabem que aprender outras línguas é uma necessidade para colaborar com pessoas de outros meios em ambientes acadêmicos e profissionais. Muitos deles, na verdade, se beneficiaram por saber muitas línguas e do intercâmbio com outras pessoas. Porém, acreditam que esse processo de aprendizagem pode e deve ser um intercâmbio entre iguais, e não necessitar da subjugação de um povo ou a eliminação de sua cultura ou história.
O mundo tem muito o que aprender sobre o estilo de vida dos povos indígenas. Apesar de haver uma grande diversidade entre eles, compartilham ideias centrais que a maioria das sociedades modernas não tem. A ideia mais significativa talvez seja o enorme respeito que têm pela terra e a profunda ligação com o território onde vivem. “Temos uma relação com a terra, ela é um ser vivente. Não se trata de tomar, tomar, tomar. Damos à terra, e ela nos dá”, explicou Landry.
Além disso, os povos indígenas conservam um enorme respeito pelas pessoas mais velhas e por tudo o que possui a sabedoria do tempo. Para alguns, é difícil compreender a importância de proteger as culturas indígenas como ancestrais das civilizações modernas. No entanto, Matuna, citando um provérbio africano, diz: “Um rio que esquece sua fonte logo seca.” F