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O mundo tem atualmente cerca de sete bilhões de habitantes, e até 2050 serão nove bilhões. Este aumento também multiplicará as desigualdades que atingem as mulheres
Por Zoha Arshad, da IPS/Envolverde
O mundo tem atualmente cerca de sete bilhões de habitantes, e até 2050 serão nove bilhões. Este aumento também multiplicará as desigualdades que atingem as mulheres. Em seu livro State of the World 2012: Moving Toward Sutainable Prosperity (A Situação do Mundo 2012: Avançando para uma Prosperidade Sustentável), o presidente do Worldwatch Institute, Robert Engelman, propõe nove estratégias que, afirma, frearão de modo efetivo a expansão demográfica. As políticas de Engelman exigem uma enorme reestruturação de programas políticos e sociais, especialmente os dirigidos às mulheres.
[caption id="attachment_17087" align="alignright" width="300" caption="As iniquidades econômicas e sociais existem em todas as partes, incluindo os Estados Unidos, onde elas ainda ganham 82,2% do que recebem os homens"][/caption]
O acesso universal a métodos anticoncepcionais, educação secundária para todas as mulheres, erradicação da tendência de gênero que limita as oportunidades econômicas e o crescimento das mulheres, bem como impostos mais altos, são algumas das estratégias de Engelman para cortar pela raiz o auge da natalidade. “Há um vínculo definitivo entre o aumento da população, os níveis de pobreza e a desigualdade das mulheres. Se todas elas pudessem exercer seu direito de escolher e só tivessem filhos quando quisessem, o ritmo de crescimento demográfico se estabilizaria. Atualmente, são registrados entre 75 milhões e 80 milhões de nascimentos a cada ano”, informou Engelman.
Segundo o especialista, ao afastar as mulheres da educação e da esfera pública, o mundo terá não só uma população crescente em suas mãos, mas também uma população que não terá os recursos necessários para alimentar, vestir e educar as futuras gerações. O aumento astronômico que se prevê é preocupante por mais de um motivo. O Banco Mundial indica que 1,29 bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1,25 por dia; uma em cada sete passa fome diariamente, e 60% das que vivem na indigência no mundo são mulheres.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que 22 bilhões de meninos e meninas morrem por dia vítimas de causas vinculadas à pobreza. Embora o Banco Mundial informe progressos desde a década de 1980, ainda pode não ser suficiente para enfrentar o aumento da população e os problemas que isso representa.
Martin Ravallion, diretor da equipe de pesquisas do Banco Mundial, apresenta o problema desta forma: “O mundo em desenvolvimento em sua totalidade conseguiu avanços consideráveis no combate à pobreza extrema, mas muitos dos que cruzaram a linha ainda continuam, na realidade, na mesma situação”. E “esta concentração bem em cima da linha da pobreza extrema mostra a vulnerabilidade que enfrentam muitíssimos pobres no mundo. E, no ritmo atual de avanço, cerca de um bilhão de pessoas ainda viverão na pobreza extrema em 2015”, acrescentou.
As ideias de Engelman sobre os métodos anticoncepcionais e a educação universal podem ser vistos como nada simples de se conseguir, mas, sem elas, simplesmente não será possível uma mudança. A Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial enfatizaram durante décadas a importância da educação, especialmente em matéria de planejamento familiar e formação sexual para as mulheres. Entretanto, também deve-se considerar aspectos culturais e religiosos, segundo Engelman.
Derrubar estruturas não é algo que se possa fazer instantaneamente. Mais de 75% dos pobres do mundo praticam a agricultura de subsistência. Quanto mais mãos tiverem para trabalhar a terra, melhor. Em países como Índia, Paquistão e Bangladesh, ter filhos homens é motivo de orgulho e honra. Em alguns casos, não é fácil ter acesso a métodos anticoncepcionais nas áreas rurais. Engelman se apressa em destacar que a desigualdade que sofrem as mulheres não se restringe aos países em desenvolvimento.
As iniquidades econômicas e sociais existem em todas as partes, incluindo os Estados Unidos, onde elas ainda ganham 82,2% do que recebem os homens. Segundo o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, a renda semanal média das mulheres foi de US$ 697, contra US$ 848 para os homens, no primeiro trimestre deste ano. “Direitos iguais nas esferas pública e privada darão às mulheres o direito de fazerem suas próprias escolhas. O acesso a anticoncepcionais e educação, sem dúvida, reduzirá o crescimento demográfico, e causará uma queda nos níveis de pobreza”, indicou Engelman.
Por ocasião do Dia Mundial da População, celebrado no dia 11, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, divulgou um comunicado enfatizando a importância dos direitos reprodutivos das mulheres. “Muito frequentemente, em muitos lugares, estes direitos são negados. Milhões de mulheres e jovens nos países em desenvolvimento não têm acesso a informação para planejar suas famílias. Isto não é apenas uma violação de seu direito de decidir o número, o momento e o espaçamento entre seus filhos. Também é uma questão de igualdade, já que as mulheres de todas as partes deveriam ter a mesma capacidade para determinar esta parte fundamental de suas vidas”, afirma o documento.
“Os programas de planejamento familiar voluntário representam mais do que apenas um investimento em saúde e direitos humanos”, prossegue o comunicado. “O planejamento familiar é uma das intervenções de maior êxito em matéria de desenvolvimento, e um dos investimentos mais fortes e rentáveis que há disponíveis. Reduz a pobreza e permite que os governos invistam em infraestrutura, educação e cuidados com a saúde”, acrescenta.
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional destinou US$ 640 milhões para planejamento familiar. Os Estados Unidos também concederam US$ 35 milhões para o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Enquanto o aborto e questões relativas à contracepção passam a um primeiro plano com vista às próximas eleições norte-americanas, ainda falta decidir o futuro da possibilidade de escolher.