Uma mulher foi assassinada em Santos pelo ex-marido, um sargento da Polícia Militar de São Paulo, mesmo com uma medida protetiva ativa. O feminicídio aconteceu dentro de um consultório, na frente da filha do casal, de apenas 10 anos, que tentou proteger a mãe com o próprio corpo e acabou baleada.
O assassino chegou armado e violento. O médico, ao notar o perigo, trancou a porta do consultório para proteger a mulher e a criança. Mas a Polícia Militar, que havia chegado ao local, deu a ordem para que a porta fosse aberta afirmando que mãe e filha estavam seguras. Quando abriram, o sargento (ex-marido) entrou, atirou e esfaqueou. A mulher morreu com uma faca cravada no pescoço e diversos tiros no corpo. A criança, gravemente ferida, sobreviveu e segue internada.
O que deveria ser uma ação de proteção virou uma cena de horror. A PM não conteve o agressor, mesmo com uma medida protetiva em vigor. Não o algemaram. Não o retiraram do local. Não o levaram à delegacia. Não é isso o mais óbvio a ser feito? A presença da polícia não impediu o crime — e, na prática, grave, o permitiu!
Isso não é apenas uma falha. É a cumplicidade institucional e corporativa retratada neste ato. É a confirmação de que, quando o agressor veste farda, há hesitação, proteção e silêncio.
A Polícia Militar de São Paulo, sob o governo de Tarcísio de Freitas, segue fortalecendo a cultura da violência seletiva, da impunidade interna e do autoritarismo. O mesmo governo que estimula o armamento, bate recorde de letalidade policial, é contra câmeras corporais e blinda suas forças de segurança, é o mesmo governo que falha e continuará falhando em proteger mulheres ameaçadas e suas famílias.
Não há como tratar esse feminicídio como exceção ou acaso. É o retrato de uma polícia que, ao se recusar a agir, assina embaixo do crime. É o retrato do governo estadual que retira políticas e recursos voltados ao combate à violência contra mulher.
Quando nem com medida protetiva e presença policial uma mulher está segura, precisamos dizer: É o Estado que está matando. Mais quantas mulheres terão que morrer e famílias serão destruídas para que algo seja feito, governador Tarcísio de Freitas?
*Danilo Tavares (@danilotavaressol) é produtor cultural, funcionário público municipal e secretário de comunicação do PSOL de São Vicente, além de membro do Conselho de Economia Solidária de São Vicente e do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista e diretor da Casa Crescer e Brilhar.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.