A digitalização avança com rapidez no ambiente urbano. Serviços públicos, mobilidade, saúde e até a iluminação das ruas são hoje conectados por sistemas inteligentes. Essa transformação, no entanto, exige uma reflexão urgente: como garantir que a conexão de uma cidade seja feita em conjunto com a segurança da informação?
A proteção cibernética e a guarda de dados tornaram-se elementos estruturantes para o funcionamento das cidades inteligentes. Quando falamos de ambientes urbanos, não estamos apenas lidando com sistemas operacionais, mas com informações sensíveis de milhões de pessoas. Um ataque pode comprometer desde o fornecimento de energia até a integridade dos dados de saúde da população. E, infelizmente, esse cenário é cada vez mais comum. Um exemplo disso ocorreu em Atlanta, nos Estados Unidos, onde um ataque de ransomware paralisou os sistemas da prefeitura, impedindo inclusive a coleta de pagamentos online. Os hackers exigiram um resgate em bitcoins para liberar o acesso aos computadores, forçando servidores públicos a recorrerem a papel e caneta para manter os serviços essenciais em funcionamento. Casos como esse tendem a crescer à medida que as cidades se tornam mais digitais e interdependentes de suas infraestruturas tecnológicas.
Segundo o Relatório de Ameaças à Cibersegurança Global da IBM, o setor governamental tem sido alvo constante de ataques, e a maioria das cidades ainda não possui um plano robusto de resposta a incidentes. Entre os principais desafios estão a escassez de profissionais especializados, a falta de padronização nos sistemas e o uso de infraestruturas antigas e vulneráveis. Ao mesmo tempo, cresce o uso de tecnologias como inteligência artificial e Internet das Coisas, que conectam sensores e dispositivos em tempo real, ampliando ainda mais as superfícies de ataque.
A boa notícia é que há caminhos acessíveis e eficazes para mitigar esses riscos. A adequação dos processos à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo, é um primeiro passo essencial. Também é urgente investir em soluções modernas de segurança, capacitação técnica contínua e monitoramento de incidentes.
Outro ponto crucial é o fortalecimento da colaboração entre os setores público e privado. Consultorias especializadas, ambientes simulados para testes de ataques (os chamados cyber ranges) e programas conjuntos de capacitação já demonstram resultados positivos em diversas cidades no Brasil e no exterior.
Mais do que uma questão técnica, a cibersegurança é um tema de interesse coletivo. Governos, empresas e cidadãos precisam assumir corresponsabilidades. Criar uma cultura de segurança digital — que vai desde palestras ao treinamento contínuo dos servidores sobre possíveis ameaças digitais — é tão importante quanto qualquer firewall ou software de proteção.
Em um ambiente urbano conectado, proteger os dados é proteger as pessoas. E só será possível construir cidades verdadeiramente inteligentes se elas forem, antes de tudo, seguras.
*Fabiano Carvalho é especialista em transformação digital e CEO da Ikhon Gestão de Conhecimentos e Tecnologia.