O Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 8 de março, coincide com o “sabadão” da ressaca do Carnaval, oferecendo uma oportunidade de refletirmos sobre a presença das mulheres na maior festa popular do Brasil. Embora o Carnaval mostre um crescente protagonismo feminino, com blocos como os que sairão neste sábado, 8 de março, da Anitta e o Mulheres de Chico, no Rio de Janeiro, o Saias na Folia, em Niterói, entre outros, a realidade das grandes produções carnavalescas e das escolas de samba ainda revela profundas desigualdades de gênero.
O espaço da criação e organização no Carnaval continua majoritariamente dominado por homens. Mulheres carnavalescas como as saudosas Márcia Lage e Rosa Magalhães são exceções em um cenário onde a presença feminina, tanto nas escolas de samba quanto nas produções, é limitada e sem a visibilidade que deveria ter. Nas baterias, por exemplo, embora a maioria das rainhas de bateria seja de mulheres, as mestras de bateria são quase inexistentes. Além disso, as interpretações dos sambas-enredo nos desfile são majoritariamente feitas por homens, cabendo às mulheres participarem dos carros de som como base, de forma secundária.
Essas desigualdades no Carnaval não são exclusivas, mas refletem uma estrutura patriarcal presente na sociedade em geral.
No mercado de trabalho, as mulheres continuam enfrentando obstáculos semelhantes: salários mais baixos, menos oportunidades de ascensão e uma escassa representação em cargos de liderança, mesmo quando possuem as mesmas qualificações dos homens. A discrepância entre a quantidade de mulheres formadas em diversas áreas e sua presença em posições de poder é alarmante, o que é reflexo da falta de reconhecimento do potencial feminino.
No Carnaval, assim como no mercado de trabalho, o sistema limita o protagonismo das mulheres que, mesmo quando ocupam espaços de destaque, não geram movimentos subsequentes de outras mulheres ocupando esses espaços após sua saída. Para reverter essa situação, é necessário promover políticas públicas e ações afirmativas que incentivem a participação feminina em todos os setores, incluindo a criação e a organização do Carnaval.
Portanto, o Dia Internacional das Mulheres deve ser uma data de reflexão sobre os desafios que as mulheres ainda enfrentam, não apenas no samba, mas em todas as esferas da sociedade.
O Carnaval, como espelho da cultura brasileira, precisa se tornar mais inclusivo e representativo, com as mulheres ocupando posições de liderança e criando um impacto mais significativo na cultura popular. A luta por igualdade no trabalho e na cultura popular é um reflexo das barreiras estruturais que ainda precisamos quebrar, para que as mulheres possam, finalmente, ocupar todos os espaços que lhes pertencem, seja no samba, no mercado de trabalho ou na política.
São muitos desafios e lutas diárias, mas também temos conquistas a serem celebradas. Diante disso, convocarmos todas as mulheres para celebrarmos o nosso dia com muito samba no pé, na Sapucaí, na Intendente Magalhães ou nos blocos, reforçando ainda a campanha pelo Feminicídio Zero.
Na próxima segunda-feira, 10/3, esperamos todas para marcharmos por um mundo, um Brasil e um Rio de Janeiro mais justo, igualitário e seguro para todas nós.
*Duda Quiroga é professora, psicopedagoga, poetisa e feminista, da Executiva Nacional da CUT (dirigente do SinproRio, Sepe e CNTE)
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