REFLEXÕES

“Me Too” mentiu? – Por Max Mu

Personagens do enredo: Marina Ganzarolli, presidente do "Me Too"; Guilherme Amado, jornalista do Metrópoles; ministros Silvio Almeida e Anielle Franco

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Dizem que um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. Dessa vez, caiu.

A bomba já explodida explode novamente, e numa direção inimaginável.

Antes de discorrer sobre o assunto, é importante definir a atual polêmica como uma segunda polêmica. Existe a ausência de dados, ausência de provas e, inesperadamente, divulgou o site UOL, uma ausência de vítimas. É um caso delicado, e vamos analisá-lo por alguns ângulos.

Vamos aos fatos:

Em setembro, o jornal Metrópoles, por Guilherme Amado, iniciou uma sequência de divulgações contra Silvio de Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos. Essas divulgações passaram de assédio moral para assédio sexual em poucos dias.

A ONG Me Too, presidida por Marina Ganzarolli, passou a informar que possuía 14 denúncias de assédio sexual, e que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, seria mais uma dessas vítimas.

A ministra, por sua vez, evitou se manifestar. A ONG Me Too, por várias mídias, indiretamente coagiu ou constrangeu a ministra a se declarar.

Resultados: demissão do ministro Silvio Almeida e uma tendência a “enterrá-lo vivo”. Um esfriamento do protagonismo das pastas de Silvio e Anielle no governo e um impacto emocional deletério para muitos ativistas de direitos humanos.

Temos neste enredo os personagens: Marina Ganzarolli, presidente do Me Too; Guilherme Amado, jornalista do Metrópoles; ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida; ministra da Igualdade Racial Anielle Franco.

Marina Ganzarolli, presidente do Me Too, explodiu o nome de Silvio Almeida, apontando severas denúncias, dizendo que eram 14 vítimas.

Guilherme Amado, jornalista do jornal Metrópole, difundiu os estilhaços.

Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, foi soterrado pela bomba.

Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, foi a vítima mais vista e exposta, quase contra sua vontade, e de forma nem tão voluntária assim.

Silvio perde, Anielle perde.

Guilherme Amado ganha evidência de grandes furos e hoje está na Globo.

Marina Ganzarolli ganha projeção ao defender sua principal causa.

Os brancos ganham e os negros perdem.

Tudo isso em quase 48 horas.

A autora do livro “A Vida Nunca Mais Será a Mesma”, que escreveu sobre a violência sexual sofrida por mulheres, inclusive por ela mesma, a também jornalista Adriana Negreiros, especialista nesses casos, acompanhou desde antes da primeira divulgação e relatou na segunda semana de março que:

O Me Too não tem sede… O oficial de justiça que tenta achar Marina Ganzarolli na sede nunca consegue encontrá-la para intimá-la.

Me Too EUA não valida essa ação do Me Too Brasil. Conselheiras alegam que as denúncias não passaram pelos protocolos da ONG”.

A Polícia Federal recebeu, depois de cinco meses, duas laudas sem as datas, locais dos supostos crimes e tampouco o contexto deste anúncio: se as vítimas ligaram, foram pessoalmente ou enviaram e-mail.

O Me Too teria induzido e coagido alunas a denunciar.

O Me Too aparentemente não tinha nenhuma denúncia quando divulgou que tinha, e só depois conseguiu duas, ainda frágeis, por enquanto.

Um mês depois, no "Fantástico", a professora Isabel Rodrigues diz que precisou de “14 antes dela para denunciar”. Agora, as 14 antes dela parecem não existir. Sendo assim, a professora Isabel e mais uma são as atuais denunciantes.

Anielle não fez denúncias ao Me Too Brasil, nem à Polícia Federal. Apenas após a midiatização de Guilherme Amado foi iniciado um inquérito, e bem depois vieram as denúncias. Anielle diz, aos 2 minutos, na entrevista do "Fantástico": “…Não era só por mim, mas por tantas outras mulheres que precisamos cuidar”.

O Me Too Brasil começa a se assemelhar, segundo as novas notícias, ao policial que primeiro atira e depois pergunta.

Três personagens – Me Too Brasil, Silvio Almeida e Anielle Franco – ficam em um triângulo jurídico.

Me Too x Silvio Almeida.

Anielle F. x Silvio A.

Procurei nas redes aproximação entre Anielle F. e Marina G., mas só encontrei Marina G. com outras mulheres da política brasileira.

Talvez o ex-ministro esteja em duas frentes jurídicas: sendo vítima de lawfare em relação ao Me Too Brasil e réu em relação a Anielle F.

Pode ser que Anielle F. esteja sendo esvaziada em sua defesa pelas inconsistências apresentadas até agora pela Me Too Brasil, e acabe tendo seu processo anulado, tornando-se vítima também dos supostos excessos da ONG em questão.

Aqui temos um imbróglio jurídico. Se Anielle mentiu, será difícil provar; se Anielle disse a verdade, será difícil provar. Mas, a onda de estranhezas levantadas entre as denúncias poderá contaminar a versão de Anielle. Em todos os contextos, Anielle sairá perdendo.

Silvio A. começa a recuperar sua imagem, construída em mais de 30 anos de carreira sem arranhões. Surge, de abandonadores e detratores, a necessidade de dar a ele o direito à defesa. O alcance de sua recuperação poderá limpar seu nome ou até eleger deputado federal.

Entre polêmicas e suposições, tudo é triste. Se o Me Too Brasil mentiu, precisa ser interditado e ter uma nova gestão, pois o serviço de acolher mulheres vítimas de violência é imprescindível no Brasil. E atender e orientar as pessoas vitimadas é diferente de linchamento público de homens com bases frágeis.

Parece que o racismo fez Guilherme Amado e Marina G. agirem colonialmente, acusando pessoas negras sem o cuidado de apuração minuciosa das denúncias. Acusar pessoas negras nunca precisou de muito cuidado no Brasil. O “Racismo é maior que o Capitalismo”, diz a escritora Renata Martins; e o racismo é maior que o poder, nos mostra essa infeliz realidade confusa, difusa e cheia de suspense para todos os lados.

Vamos acompanhar o caso, as torcidas se organizam, a plateia se atenta, o leitor e o cidadão ficam se perguntando: onde está a justiça?

*Max Mu é produtor cultural, pedagogo e escritor.

**O artigo foi publicado originalmente no site do Jornal Empoderado.

***Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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