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Setembro Amarelo: Identificando Sinais de Alerta e Intervenções Eficazes para a Prevenção do Suicídio entre Jovens

O suicídio entre jovens é um fenômeno complexo que exige abordagens multifacetadas para a prevenção

Vito Friary, psicólogo Clínico especializado em Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness.Créditos: Divulgação
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O suicídio é um problema de saúde pública global que afeta profundamente indivíduos, famílias e comunidades. No Brasil, o suicídio está entre as principais causas de morte de adolescentes, e os números são alarmantes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. No contexto nacional, o Ministério da Saúde aponta o suicídio como a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos.

Para prevenir o suicídio, é essencial identificar os sinais de alerta de sofrimento emocional e ideação suicida. Entre os principais sinais estão: mudanças nos padrões de sono e alimentação, isolamento social e retirada de atividades antes prazerosas, aumento do uso de álcool e drogas, declínio no desempenho escolar ou no trabalho, comportamentos autolesivos, como cortes ou queimaduras, e falar sobre querer morrer ou se machucar. Esses sinais podem ser exacerbados durante a adolescência, um período marcado por intensas mudanças biológicas e psicossociais. Estudos indicam que crianças com familiares que cometeram suicídio têm o dobro de risco de desenvolver ideação suicida. Além disso, jovens com transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia, apresentam taxas de ideação e tentativas de suicídio que podem chegar a 46%.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem terapêutica eficaz para a prevenção do suicídio. A TCC foca na identificação e reestruturação de crenças e pensamentos negativos que influenciam o comportamento suicida. Estudos demonstram que a TCC pode reduzir significativamente a ideação suicida e melhorar sintomas depressivos, que são frequentemente um precursor do suicídio. Uma revisão sistemática integrativa de artigos sobre TCC aplicada a pacientes com ideação suicida ou que já tentaram suicídio identificou que essa abordagem é eficaz mesmo em intervenções de curto prazo, com uma média de 12 sessões. Além disso, a TCC pode ser aplicada em conjunto com familiares, o que potencializa os efeitos preventivos e fortalece a rede de apoio ao jovem.

O fato é que o suicídio é comum em diversos diagnósticos psiquiátricos e deve ser tratado antes de qualquer outro andamento no tratamento. A evitação experiencial é um sintoma central da suicidalidade, ou seja, o sujeito quer evitar a todo custo os pensamentos e emoções doloridos que provocam a ideação suicida. No entanto, essa luta acaba agravando os sintomas.

Intervenções baseadas em mindfulness, como a Terapia Dialética Comportamental e a Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness (MBCT), têm demonstrado eficácia ao ensinar a pessoa a aceitar essas experiências, ao invés de lutar contra elas. Incluindo ensinando as pessoas a não se prenderem nos pensamentos negativos presentes, mas se soltando de maneira suave. Essas técnicas ajudam a pessoa a ser mais gentil e ter mais autocompaixão e abertura para experimentar as sensações e entender que elas são passageiras e que os desafios têm um tempo de chegar, e de partir, mas sempre que sempre mudam. Por mais simples que isso pareça, quando uma pessoa está vivendo suicidalidade na sua vida, é extremamente importante que ela veja e sinta que o sofrimento não é e nunca será eterno, e o mindfulness pode ensinar isso a pessoa.

Uma pesquisa realizada no Centro de Mindfulness no Rio de Janeiro (2019) percebeu que pessoas que aprendem técnicas de mindfulness podem reduzir ideação suicida em até 70%. Esses resultados são extremamente positivos, e também reportados em uma pesquisa de revisão sistemática da Universidade Católica de Pelotas publicada em 2022 na Trends in Psychiatry and Psychotherapy.

Embora a escola seja um ambiente onde adolescentes ampliam suas interações sociais, muitos não percebem a instituição como um espaço que ameniza seu sofrimento psíquico. Estudos qualitativos indicam a necessidade de psicólogos nas escolas para ajudar na criação de alternativas aos conflitos vividos pelos adolescentes. A presença de profissionais de saúde mental pode ser crucial para a intervenção precoce e a prevenção do suicídio.

A Dra. Tatiana Moya, Psiquiatra da Infância e Adolescência no Rio de Janeiro e doutora pela Universidade de São Paulo, destaca que o estigma e a falta de informação são grandes barreiras para a busca de ajuda por jovens em sofrimento emocional. “Existe muito tabu em volta do suicídio ou da ideação suicida. Considera-se algo vergonhoso, de fracassados, e não se tem uma visão médica do fenômeno”, explica Moya. Ela reforça que ter ideia de autoextermínio é consequência de um problema de saúde médica grave e deve ser encarado como tal: “Você deixa de procurar ajuda médica quando tem câncer? Quando tem diabetes? Quando tem asma? E por que não procurar ajuda quando tem ideação suicida? É um fenômeno médico da mesma forma.” A especialista também ressalta que, na maioria das vezes, o objetivo da pessoa não é realmente morrer, mas sim acabar com o sofrimento intenso. "Raramente uma pessoa que tenta o suicídio quer morrer. Ela quer, na verdade, acabar com o sofrimento", afirma Moya. Nesse sentido, é fundamental o envolvimento de profissionais de saúde, psicólogos e o apoio da família para oferecer suporte e minimizar o sofrimento, reforçando que ninguém deve enfrentar esses desafios sozinho.

O suporte familiar e comunitário desempenha um papel protetor significativo contra o suicídio. Programas que envolvem a participação dos pais e cuidadores, especialmente em intervenções comportamentais, mostram resultados promissores na redução da ideação suicida e na melhora do funcionamento familiar. A intervenção precoce, especialmente em populações de risco, como adolescentes com histórico familiar de suicídio ou transtornos mentais, é essencial para a prevenção efetiva.

O suicídio entre jovens é um fenômeno complexo que exige abordagens multifacetadas para a prevenção. A identificação dos sinais de alerta, a implementação de intervenções eficazes como a TCC, e o fortalecimento do suporte familiar e escolar são passos cruciais. Durante o Setembro Amarelo, é fundamental promover a conscientização sobre o tema e garantir que os jovens tenham acesso ao apoio e aos recursos de que precisam.

Prevenir o suicídio é um esforço coletivo que começa com a empatia, o diálogo aberto e a intervenção adequada. Cada vida importa, e juntos podemos fazer a diferença.

Vitor Friary é Psicólogo Clínico especializado em Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness e Autor de livros no Brasil e nos Estados.