FUNCIONA ASSIM: o cara nasce rico e vai fazer o high school e o college nos EUA com tudo pago pelos pais ou avós.
LÁ NOS “STATES” não lhe faltou nada do bom e do melhor e já formado, percebe que pra ganhar dinheiro de gente grande o melhor mesmo é vir para o Brasil, porque nos EUA a meritocracia e o racismo irão impor à ele uma competição bastante mais difícil e que talvez ele não consiga chegar, em termos de status e de finanças, onde deseja.
PRAGMATICAMENTE ele retorna para sua terra natal, local de onde ele perdeu os vínculos e num ambiente em que ele não possui a menor noção de como as coisas funcionam ou acontecem.
SÓ QUE ELE também não tem a mínima ideia do que representa a desigualdade social que coloca quase 90% da nossa população submetida a uma precaríssima qualidade de vida, devido aos salários indignos e por consequência, das gigantescas dificuldades de locomoção, de busca pelo atendimento de saúde, de segurança pública, de educação, emprego, de moradia, etc.
MAS ELE VAI morar em Ipanema (se estiver no RJ) ou no Jardim Europa (se estiver em SP ) e de lá só sai para ir para o aeroporto. Assim, ele não tem e nem quer ter conhecimento do que a sua cozinheira passa quando sai da zona leste para vir, todos os dias, servir o seu farto breakfast pela manhã. E ai dela se o croissant dele não estiver quentinho o suficiente.
COITADA da “dona Zezé” (a cozinheira), cujo nome muito provavelmente ele não sabe qual é.
ESTE TEXTO, de livre inspiração, representa algo muito semelhante à história de vida do presidente do Banco Central, Campos Neto.
UM SUJEITO que fez a sua vida nas melhores escolas americanas e que não possui nenhum vínculo de amor com o nosso Brasil, salvo talvez com a seleção brasileira de soccer, quero dizer futebol. O mesmo se pode dizer, e muito menos ainda, nos vínculos com as pessoas que vivem por aqui.
MAS ESTA NÃO é uma representação só do Campos Neto não, ela é a história da esmagadora maioria daqueles que hoje comandam o chamado mercado e a Faria Lima.
SÃO ELES que tentam impor no Brasil o modelo financeiro que eles conheceram em sua formação na terra do Tio Sam.
POR ÓBVIO, muito embora eles tenham fugido da forte concorrência da meritocracia norteamericana (que não foram capazes de enfrentar) aqui no Brasil eles a defendem ferrenhamente, assim como defendem todos os demais conceitos neoliberais de um país que teve uma história de colonização e pós colonização absolutamente diferentes da nossa.
MENINOS MIMADOS, que viveram num mundo paralelo e que nunca perceberam o sofrimento de quem já passou fome e de quem acorda às 5:00 da manhã para pegar um ou mais ônibus de maneira que as 7:00h ja esteja uniformizado para montar a mesa e servir os seus breakfasts.
UM INDIVÍDUO desses deveria passar, como uma espécie de homework obrigatório ou num estágio probatório, morando pelo menos um mês na zona leste ou na rocinha.
QUEM SABE uma experiência dessas, poderia ser o vestibular compulsório para assunção à cadeira de presidente do Banco Central.
TALVEZ, DEPOIS desta experiência compulsória, a luta pelo cumprimento do teto de gastos, assim como a definição da taxa de juros pudessem também admitir um novo quesito para avaliação baseado em fatores sociais.
NA MINHA opinião o presidente do Banco Central não poderia ser um Faria Limer que não sabe o nome e nem quantos filhos tem, ou onde mora a sua COOk, digo, cozinheira.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.