A causa dos eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes no Brasil, não está apenas no Rio Grande do Sul, assim como, as enormes perdas materiais e de vidas não ocorrem apenas no sul. O meio ambiente é um sistema integrado - matas, rios e seres vivos - e as consequências da destruição da natureza não ficam restritas ao território diretamente afetado.
Nos quatro anos do governo Jair Bolsonaro (2019-2022), o desmonte das políticas públicas e dos órgãos ambientais e o apoio ostensivo ao desmatamento geraram perdas irreparáveis ao meio ambiente, causando o agravamento da crise climática, em todo o país.
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Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), apenas em 2023, o Brasil foi atingido por 12 eventos climáticos extremos sem precedentes: seca no Amazonas, ondas de calor no centro do país, chuvas torrenciais no litoral de São Paulo, onda de frio em Mato Grosso do Sul, entre outros.
Meio ambiente em risco
Mesmo assim, a bancada do atraso não se rende às evidências e promove, no Congresso Nacional, uma agenda retrógrada e descolada da realidade. Os negacionistas denunciam a existência de uma "ditadura climática" e querem, entre outros absurdos, reduzir a proteção de áreas verdes nativas, barrar a educação sobre mudanças climáticas e expandir o autolicenciamento ambiental, implantado no Rio Grande do Sul pelo governador Eduardo Leite.
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A eliminação das leis que protegem o meio ambiente coloca em risco a vegetação nativa e a biodiversidade (conjunto de todas as espécies de seres vivos existentes) em todo o país. Para os negacionistas climáticos, a conservação ambiental é um mero obstáculo a ser atropelado.
Quem vai pagar a conta?
A tragédia mais recente devastou 463 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul e ainda há risco de novas enchentes, mais mortes e mais prejuízos materiais. O governo local estima que serão gastos R$ 200 bilhões para a reconstrução do estado. Os principais polos industriais foram atingidos pelas enchentes.
De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), 94,3% de toda a atividade econômica estadual foi afetada. Empresas de comércio e de serviços estão com atividades interrompidas por tempo indeterminado e sem condição de contabilizar os crescentes prejuízos.
Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o valor de indenizações já solicitadas (até 24 de maio) no Rio Grande do Sul, ultrapassa R$ 1,6 bilhão. A paralisação da economia coloca em risco os empregos de milhares de trabalhadores e causará uma significativa queda na arrecadação de impostos.
O estado perdeu 22% da cobertura vegetal original desde 1985 (MapBiomas). Áreas antes ocupadas por florestas e formações campestres foram tomadas pelo agronegócio, principalmente para a produção de soja, que rende cerca de R$ 4 bilhões ao ano (MDIC).
A conta da irresponsabilidade ambiental do governo do RS - que ignorou os alertas sobre o risco de chuvas torrenciais no estado - e do agronegócio predatório vai superar muito a receita gerada pela exportação agropecuária (R$ 9,6 bilhões, em 2023 - MDIC) e vai ser paga por todos os contribuintes brasileiros.
Para especialistas do setor econômico, os fenômenos climáticos representam o principal risco aos negócios no Brasil (Allianz Risk Barometer 2024). O fato é que o lucro privado obtido com o desmatamento deixa um rastro de prejuízo para a sociedade.
O agro não é pop
O agronegócio exportador não produz alimentos. O agro produz commodities – produtos básicos não industrializados – para o mercado internacional, que determina o preço que vai pagar pelos grãos e carnes. A atividade é isenta de impostos, ou seja, 100% do faturamento com a exportação vai para o bolso dos seus empresários que também recebem subsídios do governo.
O agronegócio do desmatamento e dos agrotóxicos não é pop. Ocupa 77% da área dedicada a atividades agropecuárias no Brasil (IBGE) e avança ferozmente sobre áreas de vegetação nativa nos quatro cantos do país. No Cerrado, bioma mais ameaçado atualmente, o desmatamento aumentou 43% em 2023 (Inpe).
Da Amazônia ao Pampa, as perdas de áreas verdes são alarmantes. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o setor agropecuário é responsável por 73% das emissões de gases causadores do aquecimento global e dos fenômenos climáticos extremos, como a enchente no sul e a seca na Amazônia.
Produção ameaçada
A agropecuária é o setor da economia mais vulnerável às mudanças climáticas e já enfrenta perdas na produção ocasionadas por sua própria ação predatória. Em 2024, a produção de soja e milho deverá ser 10% menor do que no ano anterior (Conab), por causa dos eventos climáticos extremos.
A nova realidade climática representa um risco para o agronegócio e para a economia brasileira, dependente da exportação de commodities para obter superávit na balança comercial. Em 2023, o agronegócio foi responsável por 49% da pauta exportadora total brasileira e a soja correspondeu a 40,4% do total do setor (MAPA).
Evoluir para sobreviver
A situação impõe medidas inadiáveis para minimizar o problema. O Brasil precisa abandonar o modelo colonial das monoculturas e investir na adaptação climática, neoindustrialização e na inovação tecnológica. É o caminho para a sobrevivência e para que o Brasil se torne um país desenvolvido, como: China, EUA, Índia, Coreia do Sul, entre outros.
"Lançada pelo governo Lula em janeiro passado, a nova política industrial brasileira (Nova Indústria Brasil - NIB) é um importante passo para a recuperação do setor", avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A política busca também fomentar o comércio exterior, e dá destaque para as iniciativas da economia verde.
A NIB disponibiliza R$ 300 bilhões do BNDES para financiamentos, desburocratiza processos e privilegia a transição ecológica e a modernização do parque industrial brasileiro, medidas essenciais para impulsionar a indústria nacional e promover o desenvolvimento do Brasil.