As diversas questões relacionadas às drogas estão incluídas, certamente, entre os temas mais apaixonados de nossa sociedade, e, provável que por esse mesmo contexto, não consiga ser realizado de forma razoável, encontrando-se “governado” ora por interesses eleitorais, ora por interesses financeiros, ora por bravatas politiqueiras (que na melhor das hipóteses, não pioram as coisas).
Adentrando logo aos exemplos e personagens para que se perceba quem é quem neste jogo, de interesses. Acerca da “PEC das Drogas” está evidenciado que ela foi pensada a partir dos interesses eleitorais do Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (e provável pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte/MG), no intuito agradar tanto a turma bolsonarista, como o “eleitor em geral” que é, em sua grande maioria, “conservador” (ou seja, não pretende mudar nada) com relação a este tema, aliás, como seria diferente? O que é oferecido às pessoas para, ao menos, debaterem?
Se há interesses eleitorais, há também interesses econômicos que objetivam arruinar essa discussão. Para esse grupo específico, declarar “guerra às drogas” serve, e muito bem, para manter a lucratividade de seus investimentos ilícitos no mercado do tráfico de drogas. As mesmas leis de mercado que serviram para Al Capone durante a vigência da “Lei Seca”, servem aos investidores contemporâneos no tráfico de drogas.
Surgem, por fim, aqueles que mais trazem prejuízos ao debate, a ineficiente e espalhafatosa “bancada da bala”, que centra seus esforços em propagar um modelo de sociedade policialesco, pois é só o que conhecem, onde o objetivo almejado não seria a correção das causas, mas uma tentativa de mascarar as consequências, ou seja, “por ordem”, “moralizar”, pondo os problemas para debaixo do tapete.
Há muitos que dizem falar em “nome de Deus”, há também nesse debate esse tipo de gente, são os guerreiros da “Guerra às Drogas”, que no geral (há tênues exceções) não tem muito a oferecer além de suas frases de efeito, ou o discurso de autoridade: pois “sabem a verdade das ruas” por serem policiais, bem, temos no Brasil talvez o pior sistema de segurança pública do mundo, portanto não parece ser nosso campo de excelência). E vendo-os na tribuna me vem logo à lembrança o saudoso Jô Soares que ao indagar certa vez o Padre Fábio de Melo sobre qual seria o real sentido de uma campanha baseada no escrito “somos todos contra o câncer”? Ora! É claro que somos. Quem estaria a favor? Os oncologistas? Óbvio que não! Também causa insatisfação social vermos uma pessoa desmaiar num canteiro, seja pelo uso de crack ou de álcool, como não satisfaz o crescimento das facções e milícias, apenas sociopatas e utopistas fugiriam a essa opinião.
Não há ala “a favor”, o que existe – politicamente falando - são perspectivas diferentes sobre o tema, que deveria ter na técnica e a ciência a sua grande mediadora, mas não tem. Aliás, não há ala “contra” também, pois, por coerência, fosse essa a intenção principal destes senhores (quase não há senhoras aqui, inclusive) provavelmente não seria o consumo e comercialização de drogas ilícitas seu principal tema, visto que alcançam frações não tão expressivas (6% da população), mas sim o álcool, que alcança 67% da população adulta, e não acho que cometeria um pecado em afirmar que o álcool não está na pauta.
Há muita hipocrisia e moralismo nesta discussão, assim como a falta de projeto político nacional, de apego e respeito à ciência, bom senso e compromisso. Compromisso? Sim, quem pode reclamar de uma PEC destas, que inclusive muda pouco ou nada a realidade das ruas, quando propõe ou promove a Lei Orgânica da PM (pauta realmente necessária, mas com um texto que fugiu e muito aos melhores interesses), ou a abertura de linhas de crédito para Presídios Privados? Com quem a gente pode contar, de verdade? Essa é uma questão que também merece outro artigo.
*Pedro Chê é Policial civil no Rio Grande do Norte e membro do grupo Policiais Antifascistas.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.